Teste 2: AMPLIFICADOR CAMBRIDGE AUDIO EDGE W

Teste 3: PEDESTAL DE CAIXA MAGIS AUDIO
agosto 16, 2019
Teste 1: CAIXAS ACÚSTICAS DYNAUDIO EVOKE 50
agosto 16, 2019


Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

A Cambridge Audio foi fundada pelo professor Gordon Edge em 1968. Seu primeiro produto foi o amplificador integrado P40, e seu grande diferencial em relação a concorrência foi o uso de um transformador toroidal que possibilitou ao P40 um som muito mais limpo e com menor distorção que qualquer produto concorrente. O sucesso veio imediatamente!

Gordon era um visionário que não se deixava iludir com o sucesso, e sempre buscou formas de atrair seu público-alvo. E teve a brilhante ideia de realizar, todas as sextas-feiras no final do expediente, shows com música ao vivo para mostrar como uma apresentação ‘real’ soa, e como a Cambridge buscava ‘captar’ parte desta magia em seus produtos.

Essas apresentações se tornaram históricas e eram disputadas por uma legião de admiradores e jornalistas.

O professor Edge também defendia a filosofia de que seus produtos deveriam atingir o maior número possível de consumidores, e esta visão norteou o desenvolvimento de uma série de produtos bons e baratos.

Para comemorar os 50 anos da Cambridge Audio, e homenagear seu fundador, foi colocado o seguinte desafio para os engenheiros da empresa: desenvolver uma linha comemorativa à altura do feito do professor Edge, sem restrições de preço e com os melhores componentes existentes para cada parte do caminho do sinal. E assim nasceu a série Edge, composta do amplificador de potência, um pré amplificador com streamer e um integrado. Os engenheiros designados para o projeto definiram que o essencial era fazer com que o sinal percorresse o menor caminho possível (no power, da entrada do sinal até a entrega para as caixas, são apenas 14 etapas).

Recebemos em conjunto o power e o pré amplificador, mas assim que vimos o nível de ambos equipamentos, resolvemos desmembrar o teste, apresentando primeiro o power e, mais tarde, o pré amplificador.

O power Edge W foi construído em um belíssimo chassi de tom acinzentado, com cantos arredondados e dissipadores de calor inseridos nos lados. No painel frontal, apenas o botão de acionamento do power com um led discreto. No painel traseiro, conexões RCA e XLR, saída de looping para a ligação de outros powers Edge W em ponte, tomada IEC, chave de mudança de voltagem e terminais de caixa de excelente qualidade.

Pesando 24 kg, o audiófilo imediatamente perceberá que o Edge W foi projetado sob cuidados rigorosos. Este peso incomum para produtos deste fabricante é devido aos dois transformadores toroidais de potência. Os engenheiros definiram que seria importante o uso de um transformador para cada canal, para que o Edge W fosse absolutamente silencioso. Eles descobriram uma maneira dos transformadores não gerarem ruído colocando-os em pé e alinhados milimetricamente, para os campos magnéticos que geram ruído se anularem mutuamente.

Na parte de amplificação, o Edge W debita 100 Watts em 8 ohms e 200 Watts em 4 ohms. A topologia é a mesma utilizada também na série Azur, a classe XA. Patenteada pela marca, esta topologia XA roda em classe A quando as demandas musicais do amplificador são baixas e, segundo o fabricante, a passagem para classe B quando a demanda aumenta é feita de forma mais linear e sem distorção audível dos classe AB existentes.

O fabricante fala em 200 a 300 horas de queima, antes de você ter uma ideia exata da performance deste power. Precisamos de quase 400 horas para poder iniciar nossas avaliações e, depois de totalmente amaciado, acabamos optando por trabalhar com ele em 220 V ( pois ele se tornou mais silencioso e ganhamos um pouco mais de calor e corpo na região média-alta).

Para o teste, além do pré Edge, também utilizamos o pré Dan D’Agostino Reference, e as seguintes fontes digitais: dCS Scarlatti, dCS Vivaldi (DAC e clock) e MSB Select (DAC e fonte). Fonte analógica: toca-discos Basis Debut IV, braço SME Series V, cápsula Transfiguration Protheus e pré de phono Boulder 508. Caixas: DeVore O/96, Dynaudio Evoke 50 (leia Teste 1 nesta edição), Wilson Audio Yvete e Kharma Exquisite Midi. Cabos de interconexão: Nordost Tyr 2 (RCA), Sunrise Lab Quintessence (RCA e XLR), Sax Soul Ágata 2 (XLR) e Transparent Opus G5 (XLR). Cabos de caixa: Nordost Tyr 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de força: Transparent PowerLink MM2 e Reference Mk2 da Sunrise Lab.

Ao desembalar o Edge W de uma caixa bem inteligente (sempre com a ajuda de alguém, pois com a embalagem são mais de 38 kg) nos deparamos com o produto armazenado em uma caixa de tecido de feltro com zíper. É impossível não perdermos alguns minutos olhando aquele gabinete impecável com desenhos e formas suaves, que mostram o esmero e a dedicação no desenvolvimento do produto.

Devidamente instalado, fizemos uma primeira audição de quase 6 horas para escrever as primeiras impressões e lá foi o Edge W para a primeira parte de amaciamento de 100 horas. O primeiro contato com o Edge W poderá ser frustrante, pois sua beleza cria uma enorme expectativa em relação à sua performance. Mas o power soou frio e sem alma! Como se tivesse vindo da Sibéria e estivesse ainda em estado de hibernação! Enfatizo esta avaliação pois para muitos a primeira impressão é a que fica, o que é um erro grotesco, se tratando de equipamento de áudio hi-end. Pois à medida que a queima vai sendo completada, os equipamentos mudam da água para o vinho (os corretos e bons obviamente).

Com 100 horas, nova rodada de avaliação, com os mesmos discos, mesmo setup, mesmo volume. Pouca coisa mudou – ganhamos mais extensão nos graves, mas o som ainda era frio e sem magia alguma. Como a Evoke 50 já havia terminado seu período de amaciamento, inverti a ordem. Voltei o power para a queima e comecei os testes da caixa Dynaudio.

Com 200 horas, finalmente o Edge W pareceu querer acordar de sua longa hibernação. Os agudos ganharam extensão, a região média ganhou corpo e características de sua assinatura sônica como silêncio de fundo e capacidade de apresentar uma micro-dinâmica detalhada e refinada, apareceram!

Faltava, no entanto, o médio-grave ganhar peso e corpo, e os graves maior poder de articulação e energia.

Resolvi então radicalizar e deixar em queima o power Edge W por mais 100 horas, já que a Evoke 50 estava se saindo cada vez melhor em sua avaliação. Quando já estávamos nos finalmentes da Evoke 50 e o Edge W já com 308 horas de queima, resolvemos ligar o conjunto e ver como funcionavam em conjunto (Edge pré e power, com cabos Ágata e Quintessence, com cabos de caixa Nordost Tyr 2 e fonte digital dCS Scarlatti). E finalmente o Edge W deu o ar da graça, com os graves bem recortados e focados, com excelente extensão. Mostrando todas as qualidades da caixa Evoke 50 (leia Teste 1 nesta edição).

Porém, aquele corpo tão desejado no médio-grave ainda era tímido, fazendo com que gravações com um equilíbrio tonal puxando para o médio-alto ficassem muito frontalizadas e cansativas em volumes próximo ao ideal da gravação.

Aí tomei a atitude drástica: trocar para 220V o Edge W, e deixar mais 100 horas em queima.

Interessante que, em 220V, o Edge trabalhou menos quente (depois de 4 a 5 horas de queima) porém seu som nos pareceu muito mais correto (já tive e testei alguns powers que realmente trabalham melhor em 220V, mais silenciosos e com um som mais natural, então já estou acostumado com esses ‘rompantes sonoros’).

Com 408 horas, a primeira coisa que fiz foi ouvir as mesmas 6 faixas que havia escutado no pré Edge e caixas Evoke 50, com o mesmo cabeamento e nas duas voltagens (110V e 220V) e batemos o martelo que, em nossa sala, o Edge W se sentiu mais à vontade trabalhando em 220V. Definida a voltagem, iniciamos o teste do produto.

O Edge W foi um privilegiado em termos de configurações digitais, pois teve a companhia da nata da nata! Como diria o meu amigo Rui: “Um banquete dos deuses”!

Para se conseguir o melhor resultado possível em termos de equilíbrio tonal e corpo, sugiro ao leitor paciência com os seguintes itens: amaciamento, que deverá ser longo e paciente, escolha de voltagem (depois de amaciado completamente), cabo de força, e cabo de caixa. Esses cuidados podem fazer toda a diferença na performance final do Edge W.

Músculo não falta: enganam-se aqueles que acham que 100 Watts serão pouco. Com todas as caixas utilizadas o Edge as conduziu com enorme autoridade e firmeza.

Seu equilíbrio tonal é muito correto, mas se o leitor não acreditar que cabos fazem diferença e não buscar os que sejam mais adequados para ele, as coisas podem desandar.

Com um cabo de força original, as pontas perdem extensão, velocidade e corpo. Falta arejamento, principalmente nas altas, deixando a ambiência sempre em segundo plano, ou em gravações mais limitadas tecnicamente sem respiro nas altas. Os cabos de interconexão também são importantes. O ideal é que sejam muito equilibrados, não tendendo a serem muito transparentes, pois o Edge W não precisa de nenhuma ‘ajudinha’ no quesito transparência.

Seu silêncio de fundo é impressionante, ombreando com powers Estado da Arte infinitamente mais caros. Sua resolução em micro-dinâmica é espetacular, abrindo um horizonte à nossa frente, sem nenhum obstáculo.

Para os amantes de música clássica, que clamam por audições que possam acompanhar cada detalhe executado pela orquestra, o Edge W será provavelmente a opção mais barata neste quesito dos Estados da Arte de preço intermediário.

Seu soundstage também é bem amplo, tanto em abertura do palco como em profundidade. E sua apresentação de foco e recorte é irrepreensível! Os planos são muito bem delineados entre as caixas e o silêncio em volta dos instrumentos são muito bem apresentados.

Sua velocidade (transientes) também é excelente, permitindo acompanhar cada execução sem nenhum atropelo ou falta de inteligibilidade.

As texturas não possuem aquela riqueza de apresentação da intencionalidade, porém primam pela competência em nos mostrar a qualidade dos instrumentos e a virtuosidade dos músicos (para extrair mais detalhes da textura será preciso um cuidado extremo com os cabos e as fontes).

A macro-dinâmica foi bastante convincente (mesmo nas caixas com sensibilidade de 85 a 86 dB (como a Yvete e a Evoke 50), e com as caixas de sensibilidade acima de 90 dB (DeVore e Kharma) foi uma verdadeira ‘pêra doce’. Controle, autoridade, escala do forte para o fortíssimo sem nenhuma sensação de dureza ou clipagem, mesmo nas gravações mais difíceis deste quesito.

O corpo harmônico, como já citei, dependerá do ajuste fino do setup e cabos, porém se você leitor deseja um corpo (principalmente um corpo nos médios-graves e graves mais próximo do real), o Edge W não o irá atender neste quesito. Pois ainda que bastante proporcional aos tamanhos reais do corpo dos instrumentos, o Edge W possui um corpo mais homogêneo (exemplo: as diferenças de tamanho entre cello e contrabaixo acústico, neste amplificador, são menores que no nosso power de referência o Hegel H30). Mas isto é um problema? Evidente que não. Mas é um preciosismo que equipamentos Estado da Arte podem oferecer.

Mas fica a critério de cada um definir se este quesito é uma prioridade ou não. O que ocorre é que nosso cérebro, quando tem a referência da música ao vivo, se torna mais criterioso nas suas observações na reprodução eletrônica e não irá se satisfazer ou deixar se enganar que aquele acontecimento musical esteja próximo do real! O mesmo ocorre quando temos pouco espaço e optamos por caixas bookshelfs: o corpo harmônico sempre será menor. Então tudo é apenas uma questão de escolha e critério.

Organicidade: graças à sua impressionante transparência, gravações com excelente qualidade como o disco Anhelo do tenor José Cura, o cantor irá se materializar em sua sala, na sua frente!

CONCLUSÃO

Em uma data tão importante, os engenheiros da Cambridge não só aceitaram o desafio como conseguiram dar vida à uma série que faz jus ao legado de seu fundador.

Aos consumidores dos produtos da Cambridge, que são muitos espalhados em todos os continentes, não deixa de ser uma surpresa uma empresa que sempre objetivou atendê-los com produtos justos e com ótima performance, lançar uma linha que coloca a Cambridge em um patamar acima.

Quem irá se beneficiar são justamente os audiófilos que sempre desejaram um produto Estado da Arte a um preço mais condizente com a nova realidade mundial. Então a Cambridge Audio acertou em cheio, na minha opinião, pois consegue com méritos, cravar um pé no segmento mais disputado do mercado por fabricantes com longa história no áudio hi-end, com uma proposta de custo-performance muito competitiva.

Esperamos que esta estratégia não se limite apenas a uma data comemorativa e outras séries baseadas na linha Edge, que mantenha a Cambridge com um pé fincado neste patamar.

Aliado a um design impecável e uma construção e apresentação digna dos fabricantes suíços de áudio hi-end, a Cambridge Audio prestou uma bela homenagem ao seu fundador.

Se você busca uma solução hi-end Estado da Arte para o seu sistema definitivo, ouça a série Edge – suas qualidades são audíveis!


Pontos positivos

Construção impecável e ótima relacão custo/performance.

Pontos negativos

Cuidados redobrados com o setup e ajuste fino muito preciso para se extrair o máximo.


ESPECIFICAÇÕES
Potência contínua100 W RMS em 8 Ohms, 200 W RMS em 4 Ohms
Distorção harmônica Total <0.002% 1 kHz em 8 Ohms, <0.02% (20 Hz – 20 kHz) em 8 Ohms
Resposta de frequência <3 Hz – >80 kHz +/-1 dB
Relação sinal / ruído 93 dB
Crosstalk < -100 dB
Sensibilidade de entrada Não-balanceada 1.09 V RMS
Impedância de entrada Balanceada 47k Ohm, Não-balanceada 47k Ohm
Entradas Balanceada, Não-balanceada
Saídas Caixas, Loop de saída
Consumo máximo 1000 W
Consumo em stand-by <0.5W
Dimensões (L x A x P) 460 x 150 x 405 mm
Peso 23.6 kg

AMPLIFICADOR CAMBRIDGE AUDIO EDGE W
Equilíbrio Tonal 11,0
Soundstage 11,0
Textura 10,0
Transientes 12,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 10,0
Organicidade 11,0
Musicalidade 10,5
Total 86,5
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
Teste 2: AMPLIFICADOR CAMBRIDGE AUDIO EDGE W



Mediagear
(16) 3621.7699
R$ 24.316

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