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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Nascida em São Paulo em 1971, Mônica Salmaso começou sua carreira na peça ‘O Concílio do Amor’, dirigida por Gabriel Villela em 1989. Em 1997 foi indicada ao Prêmio Sharp como Revelação da MPB. Em 1999 venceu o Segundo Prêmio Visa MPB e o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Em 2000 participou de uma das noites do Heineken Concerts e, em 2002, foi citada pelo crítico Jon Pareles do jornal norte-americano The New York Times como um dos principais nomes recentes da música popular brasileira. Com extensa discografia, Mônica Salmaso lançou em 1995 o CD ‘Afro-Sambas’ em duo com o violonista Paulo Bellinati. Em 1998, seu segundo CD ‘Trampolim’ teve participações de Naná Vasconcelos, Toninho Ferragutti e Paulo Bellinati. Em 1999 sai o CD ‘Voadeira’, com participações de Marcos Suzano, Benjamim Taubkin, Toninho Ferragutti, Paulo Bellinati e Nailor ‘Proveta’ Azevedo. De 2004 é o seu quarto CD, ‘Iaiá’, e de 2007 é o ‘Noites de Gala, Samba na Rua’, este com o Grupo Pau Brasil – trabalho o qual virou um DVD e um CD ao vivo no ano seguinte. Seu mais recente trabalho, de 2011, é o ‘Alma Lírica Brasileira’, com Teco Cardoso nos sopros e Nelson Ayres ao piano. Dentre suas várias participações, destaca-se o disco ‘Carioca’, de Chico Buarque, onde canta a faixa ‘Imagina’, e do disco ‘Tantas Marés’, de Edu Lobo, com a faixa ‘Primeira Cantiga’, além de cantar no filme ‘Vinícius’, dirigido por Miguel Faria Jr., sobre a vida de Vinícius de Moraes.

Como começou seu contato e descobrimento da música? Quando você soube que iria ser musicista?

Quando eu era criança ouvia muita música na minha casa. Meus pais tinham muitos LPs (de estilos variados e também muita MPB), e eu ouvia bastante estes discos. Também sou de uma geração que escutou aqueles disquinhos coloridos, de histórias infantis, musicados e orquestrados por gente muito boa, com arranjos para orquestra, com cantores bons. Não tenho dúvidas que isso faz diferença na formação do gosto musical das pessoas. Quando eu tinha por volta de seis a sete anos, começaram a acontecer saraus de música na minha casa, com pessoas tocando e cantando. E eu participava. Meu interesse começou assim, mas por não ter nenhum exemplo de profissionais da música, esta possibilidade de profissão não era considerada. Fiz o colegial no Colégio Equipe, que tem grande afinidade na área de humanas e nas artes em geral. Nessa época eu comecei a tocar violão e cantar na escola. Tinha facilidade e muito prazer em fazer isso. Quando saí do colegial e entrei no cursinho para prestar vestibular no fim do ano, minha intenção era fazer jornalismo. Mas a infelicidade que eu sentia no cursinho me fez ir atrás de aulas de canto e de musicalização para ficar mais feliz naquela hora. Ali eu conheci uma profissional de música, minha primeira professora de canto, chamada Regina Machado. Adorei entender que era possível viver de música e que era um ofício. A gente tinha uma imagem muito longínqua de que cantor era só gente famosa da televisão, e eu não fazia nenhuma ideia de como se virava isso. Foi um alívio conhecer uma profissão, de música, mais ‘normal’. Dali em diante, decidi que seria cantora.

Fale-nos sobre seus estudos formais e informais de música, de sua formação como artista.

Fiz aulas de canto e de musicalização na escola Espaço Musical com a Regina Machado e o Ricardo Breim. Depois fiz aulas de violão com a Badi Assad (não por muito tempo) e aulas de canto com a Cida Moreira. Fiz o curso de música popular na Faculdade Santa Marcelina. Cantei em bares em São Paulo que tinham música de boa qualidade, aprendi muita música neste período. Comecei a formar grupos e conhecer outros músicos e cantores, fazer parte de projetos, até iniciar o meu ‘trilho’ próprio, minha carreira de cantora.

As escolas e universidades de música no Brasil deixam o músico bem preparado? O que é mais importante, o aprendizado da escola ou a experiência de vida?

O mais importante para mim é a consciência de saber o que se quer e se busca, e a distância que se está disso. Essa consciência pode ser aprendida na escola ou fora dela. A escola é uma boa maneira de começar a estudar, conhecendo professores e colegas que também querem aprender, isso motiva e traz conhecimento. Traz o conhecimento técnico que é sempre bom. Mas somente a escola eu acho uma formação pequena, pelo menos para a música popular. É importante, acima de tudo, ouvir muita música; se experimentar tocando/cantando a partir dos exemplos de escuta, buscar referências e formas de decodificação para aquilo que se gosta e que se quer aprender. É preciso se dedicar a isso, enfim, na escola e/ou fora dela.

Vale a pena trabalhar com música de qualidade hoje no Brasil?

Essa pergunta para mim não faz muito sentido. A partir do momento que você conhece um assunto porque se dedica a ele por muitos anos (ouvindo e fazendo), e passa a ter critérios para avaliar um trabalho de boa ou má qualidade, acho que nem é uma questão de escolha fazer o seu melhor. É uma questão de amor pelo que se faz, de consciência e de obrigação. Sinto-me privilegiada por viver daquilo que faço, e me dedico ao máximo para fazer o que faço bem feito. Teria vergonha de produzir uma coisa que não considerasse boa. Provavelmente, se acontecesse esta necessidade, eu arrumaria algum outro tipo de trabalho em outra área que não fosse música.

Como é o seu trânsito entre vários gêneros musicais, desde a música brasileira até o erudito?

Meu conhecimento de música erudita é muito pequeno, ao contrário da música popular, que conheço bem. Mas meu interesse por música é aberto, sem distinções ou limites de território. Para mim, sendo música e boa (a meu ver), eu escuto e trabalho dentro do mesmo ofício, tranquila e amorosamente.

Fale-nos sobre sua relação com a gravação e qual é sua visão sobre essa parte da vida do músico.

Eu adoro estúdio e fazer shows. Mas são coisas diferentes, concentrações diferentes. Gosto das duas. No estúdio eu gosto de estar só concentrada na música, ouvindo confortavelmente os instrumentos e a voz, e mergulhando no prazer de realizá-la. Gosto muito disso e me sinto em casa. No palco, com o público, há uma oferenda daquilo que preparamos para ser mostrado, e o público que veio nos ouvir. Isso é também um ato de amor. Demorei para perder o medo de ser vista, sou tímida no palco, ou era… Agora me sinto segura de estar oferecendo o que eu sei fazer, e que preparei com dedicação para mostrar.

Quem são seus ídolos musicais e não musicais?

Tenho muitos ídolos musicais. Bobby McFerrin é talvez o maior deles, por todo conhecimento de música e da própria voz que ele tem, e pela forma de fazer música para os outros, para que seja escutada, e não para si. Adoro uma cantora portuguesa chamada Maria João, além de Dorival Caymmi, Chico Buarque, João Bosco (grande artista, compositor, violonista e cantor!), Tom Jobim, Clementina de Jesus, Nana Caymmi… São tantos. Tenho a sorte de fazer uma música que possui referências maravilhosas em todos os tempos e diversos estilos. Meus ídolos não musicais são alguns professores das escolas que me ensinaram a gostar do que faziam.

Como a Mônica Salmaso vê o seu futuro?

Não dá para prever, e sim desejar. Desejo que minha carreira continue crescendo através do meu aprendizado, que mais gente tenha acesso ao meu trabalho e que eu possa continuar trabalhando da maneira como sei fazer melhor.

Foto: Dani Gurgel

Foto da abertura da entrevista: Marcilio Godoi

1 Comment

  1. Sonia Maria Alves nunes disse:

    Mônica como é possível que eu só agora aos 68 anos pude conhece lá. Você é maravilhosa, linda, de uma voz preciosa, apresenta se (veste se ) no estilo que eu amo. Teu repertório e simplesmente fantástico.
    Te vi pela primeira vez no YouTube cantando O.diario de maria . Daí sai.louca te buscando. Que bom que te encontrei!
    Que Deus continue te abençoando sempre.
    … ……bjos

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