Melhores do Ano 2019: ACESSÓRIO / PEDESTAL
janeiro 15, 2020
S Teste 1: PRÉ-AMPLIFICADOR NAGRA HD PREAMP
agosto 7, 2020
CABO ETHERNET LAN NORDOST LEIF BLUE HEAVEN
Juan Lourenço

Já faz um bom tempo que, cada vez mais audiófilos e melômanos migram para sistemas com streamer de música. Assim como aconteceu com o disco de vinil, que foi posto de lado pela praticidade do CD – mais pela comodidade do controle remoto dos CD-Players que propriamente pelo CD – o streaming de música vem caindo no gosto da rapaziada. Embora saibamos que há falhas e perdas no processo de digitalização, e no modo como a estrutura da rede mundial de computadores trata o arquivo digital, existem mais vantagens que desvantagens, sobretudo se você não for tão purista assim. Só o fato de poder ter toda sua biblioteca à um toque de distância, é motivo mais que suficiente para se deixar seduzir pela praticidade da música em arquivo.

A medida que o computador foi ganhando espaço nos sistemas de áudio high-end, e a consolidação dos tipos de arquivos sem perda (lossless) como FLAC foi caindo no gosto dos audiófilos, a necessidade de maior capacidade de armazenamento também foi crescendo. Com isto, muitos dos donos de computadores criaram seus próprios servidores NAS para suprir a demanda por espaço para sua discoteca, agora ‘ripada’ para o disco rígido. Nascia aí uma nova demanda por cabos de rede de padrão audiófilo. Principalmente agora, com o streaming de música, onde as perdas de informação são sentidas com maior intensidade, seja pela própria tecnologia ainda em estágio inicial, seja pela parte física dos componentes como fiação externa das operadoras de telefonia, modem e etc.

O cabo Ethernet Nordost Blue Heaven vem para melhorar esta conexão combalida, permitindo a integração de dispositivos NAS e streaming de música, melhorando ao mesmo tempo seu desempenho sonoro. Segundo a Nordost, a tecnologia empregada no cabo Ethernet Blue Heaven elimina completamente o crosstalk. Melhora a resistência ao ruído e mantém a transferência de dados mais estável. Com isto a melhora no som é percebida assim que o espetamos no sistema!

O cabo é composto por oito condutores de núcleo sólido, 24 AWG, de cobre isolados em polímero resistente, dispostos em um design de par trançado e Conectores 8P8C/RJ45 blindados.

Para realizar os testes do cabo Nordost Blue Heaven, utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificador integrado Sunrise Lab V8 MkIV, sistema Naim composto por Streaming ND5 XS com Power Supply XP5 XS, Naim DAC com Power Supply XDS DR, Pré Naim NAC 282 com power supply HI CAP, amplificador Naim NAP 250. Fonte: Blue Sound Node 2. Cabos de força: Transparent MM 2, Sunrise Lab Reference Magic Scope com terminação normal e com conector I8 para o Blue Sound, e Chord Sarum. Cabos de interconexão: Cabo Ethernet Wireworld Starlight, Sunrise Lab Reference Magic Scope RCA, Sunrise Lab Quintessence Magic Scope. Cabos de Caixa: Sunrise Lab Quintessence Magic Scope e Chord Sarum. Caixas acústicas: Dynaudio Focus 380, Dynaudio Emit M30. Todo o sistema Naim e as caixa Dynaudio Focus 380 foram cedidos para testes pelo nosso amigo Alan, e a ele eu agradeço muito pela gentileza e paciência (risos).

Comecei ouvindo o Blue Sound com o cabo CAT5e comum, ‘made in Santa Ifigênia’, para sentir o tamanho do salto quando fosse para o Blue Heaven. Não esperava grande coisa então acabei gostando da apresentação, fazendo concessões aqui e ali para não arrancar os cabelos.

Considero o cabo Ethernet o maior funil dos sistemas com NAS e streaming de música. Assim como a nossa elétrica fornecida pelas concessionárias não é ideal para aplicações audiófilas, o que é entregue pelas empresas de telefonia também não. Por isto, faz toda a diferença utilizar um cabo que consiga a integridade do sinal e, neste quesito, o Nordost se sai muito bem. Seria loucura dizer que ele recupera alguma informação, mas a sensação que ficamos é esta mesmo. É claro que ele não recupera nada, mas o pouco que sobra do sinal, ele conduz muito bem! Fico imaginando o quanto se perde nos postes e nas caixinhas de passagens dos prédios e das casas, até chegar ao modem.

Com o Blue Heaven no sistema, o som se torna mais palpável, mais próximo do real e com ótimo equilíbrio tonal. As texturas são o ponto forte do cabo, e o que mais se perde em sistemas digitais, por esta razão, a interação dele com o sistema é quase como juntar a fome com a vontade de comer. Ele traz à música via streaming um calor e organicidade que falta na maioria dos players de streaming de música de baixo custo, e que se estende até para alguns aparelhos mais sofisticados.

Esta melhora geral que o cabo provoca fica bastante evidente no Blue Sound, que é um bom player, mas sofre de ‘digitalite do miocárdio’. No disco Musica Nuda Live à Flip, da dupla Petra Magoni e Ferruccio Spinetti, faixa 1, o contrabaixo soa vigoroso, com ótima extensão nos graves e bastante harmônicos. Os detalhes de boca da Petra ficam muito bonitos, a dicção ganha uma clareza muito boa. O Nordost consegue dar velocidade aos transientes de maneira bastante natural, não soam forçado, nem aparecem em detrimento do endurecimento das altas.

Quando colocamos algo mais encardido de tocar, o disco Meu nome é Gal (O melhor de Gal Costa), de 1988, faixa 11, uma faixa que é um verdadeiro terror para sistemas digitais, pois é uma gravação antiga e cheia de efeitos de pássaros, assobios e uma flauta que teima em metalizar. Esta música é famosa por derrubar sistemas com streaming de música. O Nordost conseguiu dar dignidade ao Blue Sound, e colocar o Naim numa posição de rei soberbo e com uma naturalidade estonteante! As intencionalidades da voz, no início da música, são uma verdadeiro calvário, e quando a cantora resolve mostrar toda a potência de sua voz, o Blue Heaven acompanhou com muita facilidade, se mantendo firme, trazendo conforto auditivo e uma organicidade de dar inveja. Mas nem tudo são flores, e o que menos impressionou no cabo foi o seu palco, que não era muito largo – para ouvir orquestras e conjuntos com muitos músicos, faltava aquela lateralidade e um pouco mais de profundidade para acompanhar o restante das qualidades do cabo.

Ficou claro que o Wireworld não estava no nível do Blue Heaven, mas ainda assim resolvi fazer um teste, pois estava bastante curioso. O Blue Heaven saindo do modem direto para o player ia muito bem, mas quando resolvemos colocar o Starlight do modem para o roteador Apple AirPort Time Capsule, e dele o Blue Heaven para o Player, o salto foi enorme! A dica que dou, é que procurem ou por este roteador, ou os de outras marcas que já são considerados audiófilos, como os da iFi ou outros.

CONCLUSÃO

Para quem busca um cabo Ethernet honesto, de bom preço e com qualidades que trazem melhoras reais ao sistema, peço que ouçam este cabo Nordost Blue Heaven, pois quem está sentindo falta de pegada, de naturalidade e de textura na sua fonte de música via streaming, ele pode ser a salvação da lavoura.

Nota: 67,5
AVMAG #249
AV Group
(11) 3034.2954
R$ 3.025 (2 m)

CABOS NORDOST HEIMDALL 2 DE CAIXA E RCA
Juan Lourenço

A importadora oficial da americana Nordost no Brasil, a AV Group, nos trouxe uma série de cabos para testes, dentre eles os cabos interligação USB Blue Heaven (edição 249), Tyr de caixa e interconexão (edição 250), e Nordost Frey (edição 253).

A Nordost divide seus principais cabos em três grupos: O primeiro grupo, de entrada, denominado Leif, abriga os modelos White Lightning, Purple Flare, Blue Heaven e Red Dawn. Depois a linha Norse de alta performance, contendo os modelos Heimdall 2, Frey 2 e Tyr 2. O terceiro grupo, Reference, tem apenas uma linha de cabos Valhalla 2 e, por fim, a linha Supreme Reference, com o topo da cadeia alimentar: os todo-poderosos Odin e Odin 2.

Nesta edição, o cabo da vez é o modelo Heimdall 2, RCA e de caixa acústica. Como mostrado acima, o cabo Heimdall é o primeiro da linha Norse, e é a partir dele que a coisa começa a ficar séria, por assim dizer, pois começamos a ver algumas técnicas de produção e materiais do Valhalla e Odin sendo empregados na linha Norse, como a tecnologia Mono-Filament, que cria um dielétrico de ar virtual ao enrolar um filamento FEP flexível em uma espiral precisa ao redor de cada condutor. Sabe aquele filamento colorido que vemos ao redor dos fios, principalmente nos cabos de força? Este é o dielétrico responsável por manter o condutor longe da capa final do cabo. Se observar com cuidado, verá que mais de 70% do fio está realmente ‘flutuando’, pois este filamento FEP impede que, em uma torção por exemplo, o condutor encoste na camada de Teflon extrudado, reduzindo a absorção dielétrica e controlando melhor o amortecimento mecânico, além de manter a precisão geométrica do cabo. Estas técnicas desenvolvidas primeiramente para a indústria aeroespacial e para a NASA, agora estão à serviço do áudio, da boa música.

Outra tecnologia vinda dos modelos topo de linha é o Aterramento Assimétrico, que diminui o nível de ruído. Em termos práticos, estas duas tecnologias – Mono-Filament e o Aterramento Assimétrico – podem ser observados na reprodução sonora na forma de mais silêncio de fundo, melhor foco e recorte, e conseqüentemente melhores contornos dos músicos e instrumentos no palco sonoro – Aquele foco surpreendente da linha Valhalla, micro-dinâmicas mais precisas e clareza na região média, já podem ser observados a partir do Heimdall.

Uma curiosidade sobre os cabos de caixa acústica Flat Line (formato de fita) é que esta geometria dos condutores alinhados em paralelo obtém ganhos consistentes em velocidade de transientes, macro e micro-dinâmicas, beneficiando-se diretamente da relação capacitância/indutância formada pelo paralelismo dos condutores. O pênalti nesta topologia é que a região média tende a vir para frente, tirando um pouco da profundidade de palco. Dá para equilibrar com outras técnicas, mas tais medidas podem encarecer o produto – suspeito que é por isto que desenvolveram os próprios plugs, pois é uma maneira barata de negociar melhor os ganhos e perdas na topologia, principalmente nos produtos de entrada e meio de linha.

As terminações dos cabos Nordost RCA ou XLR utilizam a tecnologia proprietária da marca chamada Nordost MoonGlo®. O RCA macho possui uma ‘coroa’ que desliza para dentro do próprio plug ao encostar-se no RCA fêmea, fazendo o travamento total do conector. Os de caixa são os tradicionais plugs Banana e Spade.

Para o teste foram utilizados os seguintes equipamentos. Fonte Digital: CD-Player e transporte Luxman D-06, DAC Hegel HD30 Mod By Sunrise Lab. Amplificadores integrados: Sunrise Lab V8 Mk4 e Mk4 SS com pré de phono interno, e PS Audio S300. Cabos de força: Transparent Reference XL MM 2, Sunrise Lab Reference e Quintessence Magic Scope. Cabos de Interligação: Sax Soul Cables Zafira III XLR, Sunrise Lab Reference Magic Scope RCA, Sunrise Lab Quintessence Magic Scope. Cabos de caixa: Sunrise Lab Reference 2 e Quintessence Magic Scope. Caixas Acústicas: Dynaudio Excite X14, Emotiva Airmotiv T1, Neat Ultimatum XL6.

Dentre os cabos que testei, o cabo de caixa Heimdall foi um dos cabos que mais demorou a amaciar. Foi preciso pouco mais de 350 horas de amaciamento. Meu pobre player de batalha, um DVD que uso para os períodos de amaciamento entre as audições sérias no sistema de referência, ficava 7 dias ligado sem interrupções, ouvia e retornava para o pobre DVD trabalhar ainda mais uma semana, e assim foi até o amaciamento. O RCA amaciou mais rápido, e já tinha algumas horas de estrada.

Inicialmente ligamos o Heimdall de caixa ao integrado V8 com as caixas Emotiva T1. De imediato percebemos que a sinergia foi total. A velocidade estonteante do cabo Heimdall nos graves trouxe uma precisão às vigorosas arcadas do contrabaixista Bruce Henri, no disco Bruce Henri & Villa’s Voz, faixa 1. Além da precisão rítmica ficar melhor, o cabo trouxe maior equilíbrio na região médio-grave, muito bem-vindo para a T1, porém esta luz a mais na região do médio-grave ofuscou um pouco o grave que descia bem, com impacto e texturas ótimas, mas nem tanto como se esperava. O foco e recorte são o ponto alto deste cabo: todos os instrumentos passam a ter uma apresentação mais ‘vincada’ no imaginário palco sonoro. É possível perceber, sem muito esforço, os movimentos dos músicos, a posição deles. A inteligibilidade do dedilhado nos solos fica ainda mais precisa.

Continuando nesta linha musical, colocamos Arne Domnérus, disco Live is Life, faixa 11. E novamente ouvimos uma precisão e dinamismo no solo de bateria de causar inveja. Os ataques tinham uma ótima energia, dava para perceber com clareza os harmônicos se formando em cada pele e prato da bateria. A clareza na região média e média-alta fazia com que o acontecimento musical soasse ainda mais prazeroso de ouvir, já que o clarinete ganhava um leve destaque a mais sem se embolar com o restante dos músicos. A profundidade era boa, os músicos não pareciam estar disputando espaço a cotoveladas, muito pelo contrário, tinha uma boa distância entre eles e ótimo silêncio de fundo para mostrar detalhes, como as diferentes batidas dos macetes no vibrafone de Lars Erstrand – mesmo que em uníssono com a clarineta, dava para perceber as diferentes de dinâmica de cada instrumento separadamente com ótimo timbre e extensão para ambos!

Ao alternar os cabos de interligação disponíveis, as características se mantinham, algumas como os médios e as altas mais doces do cabo Zafira III traziam benefícios muito bons ao cabo de caixa Heimdall, ficando mais relaxado quando a música era mais intimista. Já com o Reference a melhora foi no encaixe do grave com médio-grave, proporcionando mais conforto auditivo e recuando o palco.

Como era de se esperar, o Nordost Heimdall 2 evoluiu bastante, tanto que, diferente da primeira versão, que era mais ‘autoritária’, a versão 2 se mostrou mais neutra, mais compatível e amigável com cabos fora da sua família.

O mesmo acontece com o RCA tocando separado de seu par. A evolução na compatibilidade com outras marcas, cedendo um pouco de sua assinatura para que outras assinaturas sônicas se misturem, mostra que o grau de refinamento do Heimdall 2 RCA aumentou por demais!

Quando juntos, RCA e caixa, aquele grave mais enxuto do cabo de caixa, dão lugar a um grave cheio e repleto de extensão. As vozes ficam mais recuadas e com corpo melhor delineado, os tamanhos dos instrumentos ficam mais próximos do ideal, mas os agudos perdem um pouco de extensão lá no final da ponta. Claramente o cabo de caixa está um degrau acima do RCA, porém com os dois juntos somando forças, a musicalidade toma conta da sala de audição e a pequena perda na extensão dos agudos passa a ser mais uma questão de gosto pessoal, porque o som fica mais quente, mais relaxado, perfeito para audições de conjuntos de até cinco integrantes, como os de música folk, grupos de jazz, blues e rock progressivo por exemplo.

CONCLUSÃO

A diferença do cabo Heimdall 2 para o seu antecessor é clara como água, e o cabo evoluiu muito e os benefícios são ouvidos sem qualquer esforço. A Nordost conseguiu maior compatibilidade, refinamento e um nível de conforto auditivo surpreendentes para este produto, tudo isto sem perder a identidade sônica da marca, agradando a gregos e troianos. Um feito e tanto!

CABO DE INTERLIGAÇÃO NORDOST NORSE HEIMDALL 2 RCANota: 88,0
CABO DE CAIXA ACÚSTICA NORDOST NORSE HEIMDALL 2Nota: 90,5
AVMAG #254
AV Group
(11) 3034.2954
Cabo Interconexão 2m: R$ 8.517
Cabo Caixa 2m: R$ 11.711



CABO NORDOST FREY 2 DE INTERCONEXÃO E DE CAIXA
Fernando Andrette

Seguindo o script, após testar o cabo Tyr 2 de caixa e de interconexão, agora passamos para vocês nossas observações sobre o modelo Frey 2. Assim como o Tyr 2, o Frey 2 pertence à linha Norse, a segunda série deste conceituado fabricante de cabos da terra do Tio Sam. Sugiro para todos que estejam interessados em conhecer mais detalhes da série Norse, lerem também nossas observações do Tyr 2.

Em inúmeros fóruns, quando se trata de realizações de upgrades dentro da mesma série de cabos da Nordost, acalorados debates são travados sobre se as diferenças entre um e outro cabo logo acima, serão audíveis para justificar o investimento.

Claro que todo este questionamento é importante, afinal dinheiro não é capim, e pesa no bolso em qualquer lugar do planeta em que o vil metal é utilizado.

No entanto, o que pouco observo nesses embates é se o sistema está à altura do investimento de um cabo de nível superior (claro que estou imaginando que estejamos falando de dúvidas de quem acredita que cabos fazem diferença), pois muitas vezes, passando os olhos no setup, fica evidente que não haverá melhoras audíveis. O que gostei muito na série Norse 2 é que os três cabos (Heimdall 2, Frey 2 e Tyr 2), atendem a um leque de sistemas que vai (dentro de nossa metodologia), dos Diamantes na fronteira com o Estado da Arte, até sistemas definitivos (de 98 pontos no caso do Tyr 2) – possibilitando a todos que possuem sistemas bem ajustados (em termos de sinergia e assinatura entre os componentes eletrônicos), um upgrade seguro e muito satisfatório em termos de upgrade nos cabos.

O cabo Frey 2 utiliza o mesmo design central da série de entrada da linha Leif, ao mesmo tempo que na série 2 introduzem tecnologias de ponta utilizados na linha Valhalla e Odin, como a tecnologia Dual Mono Filamento, comprimentos ajustados para evitar perda de transmissão de sinal, conectores MoonGlo projetados e patenteados pelo fabricante.
A construção Dual Mono Filamento cria um dielétrico de ar virtual com um sistema de suspensão de difícil construção mas grande eficiência. Os condutores de núcleo sólido OFC são revestidos de prata e isolamento. O Frey 2 de interconexão possui as seguintes características técnicas: isolamento de propileno etileno fluorado (FEP), construção duplo filamento mono, condutores 5x 24 AWG, material de núcleo sólido de OFC 99,999999%, capacitância de 28.0pF/ft, velocidade de propagação de 85%.

Sua capa protetora possui a cor lilás, e tanto o cabo de caixa como de interconexão (RCA) enviados pela AV Group, vieram zerados. Paralelamente ao teste do Tyr 2, o Frey 2 também foi sendo amaciado para podermos realizar um aXb com total segurança que ambos estariam com as mesmas 300 horas de queima. Foram dezenas de produtos em que os cabos de interconexão e de caixa foram avaliados, então fatalmente alguns equipamentos nem serão relacionados.

Para o fechamento das notas, utilizamos nosso sistema de referência e também os produtos em teste nos últimos três meses. As caixas acústicas foram: DeVore O/96, Revel Perfoma3 M105, Dynaudio Evoke 10, Dynaudio Evoke 50 e Kharma Exquisite Midi. Amplificadores: Audio Research 160M, Cambridge Audio Edge e Hegel H30. Pré-amplificadores: Audio Research Ref 6, Cambridge Audio Edge e Dan D’Agostino. Prés de phono: Tom Evans Groove+ e Boulder 508. Fontes digitais: dCS Scarlatti, dCS Vivaldi e MSB Select DAC.

Em minhas anotações escrevi: o Tyr 2 precisa de muito maior tempo de amaciamento para mostrar suas virtudes que o Frey 2. Será a quantidade de fios? Pois foi isto que aconteceu. Tirar da embalagem o Tyr 2 e esperar que já saia tocando magistralmente, será uma decepção. Já o Frey 2 parece já sair da embalagem muito mais próximo do que você irá apreciar depois das 300 horas de queima. Deixarei o comparativo entre os dois cabos para o final.

A assinatura sônica de toda a série Norse 2 é muito semelhante. Cabos com uma precisão e velocidade estonteante, muito detalhados tanto na recuperação de nuances de microdinâmica, como na apresentação de arejamento e silêncio de fundo. São cabos que deixam a música fluir com enorme controle e prazer auditivo.

O equilíbrio tonal no Frey 2 se estabilizou com 180 horas de queima. Daí em diante o que mudou foi a melhora na apresentação do corpo na região do médio-grave e no corpo também nos agudos superiores. Você saberá nitidamente que o amaciamento chegou ao fim quando os planos e a abertura e profundidade do palco sonoro se estabilizarem.

A sensação é que, entre as 200 e 300 horas, o palco vai se alargando gradativamente até termos a capacidade de apreciar um foco e recorte dos planos de uma orquestra sinfônica para além do limite das caixas, e para muito além da parede às costas das caixas. Para os amantes de soundstage, tanto o Frey 2 como o Tyr 2 são excelentes!

Muitos audiófilos reclamavam que a sonoridade da linha original Norse, em muitos sistemas, soava um pouco seca em tamanho de corpo dos instrumentos e no timbre, mostrando muito mais das notas fundamentais, do que o invólucro harmônico. Nesta nova geração, essas características problemáticas não existem. Ambos possuem corpos muito corretos (tanto em CD como em LP) e não se ouve nenhum resquício de secura ou falta do invólucro.

Achei o Frey 2 até mesmo mais quente e musical, com alguns gêneros musicais, que o Tyr 2 (talvez pelo fato do piso de silêncio do Tyr 2 ser muito maior), me parecendo o cabo certo para aqueles que desejam um toque a mais de calor nas vozes e instrumentos de cordas e sopro.

A pergunta óbvia que todos que possuem bala para adquirir qualquer um dos dois, é: qual eu escolho? E a resposta que darei, é: depende do sistema que você tem, do seu gosto musical e do que você deseja. O Tyr 2 possui um silêncio de fundo que é superior ao Frey 2, e com isto o ouvinte ganha em transparência e resolução maior. Sua assinatura sônica também é mais refinada e muitas de suas qualidades já estão muito mais próximas das linhas Valhalla e Odin.

Já o Frey 2 possui uma sonoridade mais quente, com excelente transparência, mas que não possui a mesma resolução em microdinâmica e nem a mesma transparência. Na nossa metodologia, sempre lembramos que 4 pontos é uma distância considerável, não em compromissos, mas em performance. O que quero dizer com isto? Que em termos de metodologia, ambos já atendem com grande margem de segurança a todos os quesitos de forma coerente e homogênea. E que as diferenças se encontram no grau de refinamento (ou, se quiserem, de lapidação). Exemplos: em uma passagem com três saxofones montando um acorde, o Tyr 2 dará ao ouvinte a possibilidade de distinguir cada um dos saxofones, como as alturas e se o acorde foi tocado de forma precisa. O Frey 2 mostrará que estamos escutando um acorde de saxofones, mas os detalhes passarão batidos. Ou aquele triângulo no meio de um crescendo da orquestra: o Tyr 2 permite mesmo com a entrada de inúmeros instrumentos, acompanhar o decaimento do triângulo, até o silêncio. No Frey 2, haverá um esforço para tentar observar este decaimento, já que muitos outros instrumentos entraram.
Detalhes que para muitos são irrelevantes e não merecem o custo que se paga para se ouvir, e para outros são de suma importância para justificar todo o dinheiro investido. Não serei eu o juiz desta questão – a mim só cabe esclarecer a você, leitor, onde se encontram as diferenças e como elas serão ou não relevantes para a escolha de um ou outro cabo.

CONCLUSÃO

Gostei muito do Frey 2, e acho que sua relação custo/performance agradará à um número maior de usuários (tanto melômanos como audiófilos) que tenham um sistema Estado da Arte e chegaram à conclusão que aquele sistema é o definitivo (ou, se não é, será por muito tempo utilizado), e só querem ‘lapidar’ com cabos as ‘arestas’ ainda existentes.

Muito bem construído, e de enorme compatibilidade com todos os produtos utilizados no testel, com excepcional velocidade para respostas de transientes, um equilíbrio tonal preciso e muito musical. Atende perfeitamente desde o usuário que aprecia um único gênero musical aos que (como eu) escutam de tudo.

O cabo Frey 2 de caixa possui as seguintes especificações: 22 condutores 22AWG, material de núcleo sólido OFC 99,999999% prateado, capacitância de 10,3 p.f./pé, indutância de 0,135uH/pé, propagação de 96%, terminações banhadas à ouro (spade ou plug Banana).

Comparado também com o Tyr 2, o cabo de caixa Frey 2 se portou de maneira distinta do cabo de interconexão (será questão da quantidade de fios condutores apenas?). Interessante que misturar os cabos não deu o equilíbrio teoricamente imaginado. Exemplo: usar o RCA Tyr 2 com o cabo de caixa Frey 2, na tentativa de manter certas características na performance como corpo e silêncio de fundo. Ou o inverso: RCA Frey 2 com cabo de caixa Tyr 2. Aqui se aplica a lei do elo mais fraco (como em todo sistema hi-end bem ajustado), mostrando que a distância entre os cabos de caixa Tyr 2 e Frey 2, é maior que a dos de interconexão.

Cheguei a achar que seria uma questão de um maior amaciamento ou que havia feito os cálculos errados de quanto cada um ficou em queima. Mas, revendo minhas anotações, confirmei que ambos fizeram as 300 horas em conjunto na Kharma, e que o tempo em que foram utilizados separados já estavam totalmente amaciados.

Em todas as caixas utilizadas no teste as diferenças no corpo harmônico, no tamanho de palco e no silêncio de fundo foram audíveis. Nestes quesitos as diferenças são significativas. Estou a falar nas colunas utilizadas (Kharma, Dynaudio Evoke 50 e DeVore O/96). Nas books Evoke 10 e Revel Concentra, é muito menos perceptível essa diferença.

Em termos de assinatura sônica são muito semelhantes. Excelente equilíbrio tonal, com ótima extensão nas duas pontas, velocidade e arejamento. Região média com enorme naturalidade e transparência. Texturas impecáveis e transientes matadores! Micro e macrodinâmica capazes de nos prender à cadeira, e uma materialização física palpável!

O corpo harmônico, se comparado diretamente com o Tyr 2, é audivelmente menor, e os planos na largura e profundidade também são mais concentrados entre as caixas.

Estamos, sempre é bom lembrar, falando de um aXb com um cabo acima, da mesma série, e que custa quase o dobro! Então quero deixar claro que o Frey 2 de caixa é um excelente cabo e com uma relação custo/performance muito competitiva com os cabos concorrentes da mesma faixa de preço.

Então se você possui um sistema Estado da Arte na faixa de 95 a 98 pontos, o ideal será investir no Tyr 2 de caixa (principalmente se você deseja um Valhalla 2, mas falta crédito para tanto). Já os leitores que possuem um sistema entre 90 e 94 pontos Estado da Arte, e desejam um cabo de caixa com uma assinatura sônica correta, natural e de uma musicalidade cativante, o Frey 2 é uma excelente indicação.

Não conheci a série Norse anterior de cabos de caixas para saber o quanto evoluiu para a Norse 2. O que posso dizer, após passar cinco meses com esses cabos da Nordost, é que esta nova geração oferece um grau de performance surpreendente. E é capaz de atender a uma legião de audiófilos que sempre desejou ter em seus sistemas as séries logo acima (Valhalla e Odin), mas que pelo preço proibitivo precisam achar uma outra solução para este desejo.

Afirmo que as melhorias implementadas nesta nova geração da série Norse permitem a todos os que desejam subir mais alguns degraus, realizarem seu sonho.

O Frey 2 está na fronteira, permitindo ao usuário ter uma ideia do que a série superior pode fazer pelo seu sistema.

Altamente recomendado, ambos: de interconexão e de caixa.

CABO NORDOST FREY 2 DE CAIXANota: 91,0
CABO NORDOST FREY 2 DE INTERCONEXÃONota: 94,0
AVMAG #253
AV Group
(11) 3034.2954
Cabo Interconexão 1m: R$ 9.143
Cabo Caixa 2m: R$ 18.318
CABOS DE INTERCONEXÃO E CAIXA NORDOST TYR 2
Fernando Andrette

O novo distribuidor no Brasil da Nordost é a AV Group, desde o segundo semestre do ano passado. No começo de janeiro, eles nos enviaram uma bela maleta com todos os cabos da linha Norse da Nordost, com um cabo de interconexão RCA de 2 metros e um par de 4 m de cabos de caixa. Esta linha, abaixo da linha Valhalla 2, é constituída dos seguintes modelos: Heimdall 2, Frey 2 e Tyr 2. O consumidor encontrará nesta série também os seguintes cabos: USB, Digital Coaxial e AES/EBU e de força.

Com o envio de toda a linha Norse de caixa e interconexão, decidimos começar as nossas avaliações pelo Tyr 2, o mais próximo das linhas Valhalla 2 e Odin 2, e ir descendo. Assim o leitor terá uma ideia consistente, dentro de nossa metodologia, de onde cada um desses cabos se encaixa dentro da marca e, também, qual poderia ser um upgrade seguro para cada sistema.

Gosto muito da filosofia da Nordost de utilizar em todos os seus produtos o que eles chamam de construção progressiva. Como os cabos da linha de entrada Leif, a série Norse 2, utiliza condutores de cobre OFC banhados à prata, isolamento FEP (teflon) extrudado e uma construção ajustada mecanicamente.

Outros avanços tecnológicos que, segundo o fabricante, os levam ainda mais perto das linhas Valhalla 2 e Odin 2 em termos de performance, é o uso de uma tecnologia de mono-filamento de patente proprietária, que cria um dielétrico de ar virtual enrolando um filamento em uma espiral precisa ao redor de cada condutor, antes de colocar uma ‘luva’ em cada condutor. Minimizando o contato com o condutor, e reduzindo drasticamente a absorção dielétrica enquanto se amplia o amortecimento mecânico e a precisão geométrica.

Os cuidados vão além, nesta nova série, com ajustes mecânicos na construção com comprimentos mecanicamente ajustados para reduzir a microfonia interna e a ressonância de impedância de alta frequência.

Na apresentação do modelo Tyr 2 o fabricante ressalta que seus atributos sonoros são mais silêncio de fundo, maior arejamento tanto em torno dos instrumentos como na apresentação de ambiência e uma maior faixa dinâmica e, segundo a Nordost, muito mais próximo dos consagrados Valhala 2 e Odin 2.

O isolamento do Tyr 2 de interconexão é o Etileno Propileno Fluorado (FEP), em construção com camadas mecanicamente sintonizadas e design duplo de mono-filamento. Os condutores são 7 x 24 AWG, núcleo sólido de cobre OFC 99,999999% banhado à prata, com capacitância de 33.0 pF/pé, indutância de 0,045 uH/pé, e velocidade de propagação de 86%.

Para o teste nesses quatro meses utilizamos o Tyr 2 em conjunto com nossos cabos e também com o Frey 2, para termos uma ideia exata da assinatura sônica de um setup Norse 2. Em todos os produtos que estiveram em teste neste período, ou que ainda estão, temos utilizado direto tanto o cabo de interconexão Tyr 2 como o de caixa.

Tentei de todas as maneiras, amigo leitor, conseguir um Tyr versão anterior para conhecer, já que com esta linha Norse nunca havia tido contato anteriormente. Então meu único recurso foi buscar as anotações referentes ao Valhala 1 e 2, e ao Odin 2 que testei.

Muitos devem se perguntar: mas em que diabos as anotações pessoais do Andrette podem ajudá-lo? Já que foram feitas com outros sistemas e em épocas bem distintas! Minhas anotações pessoais, que utilizo para registro de minha memória auditiva, vão muito além de observar o comportamento auditivo de um produto em teste. Geralmente, nessas anotações utilizo nossas gravações ou gravações que nos acompanham desde o pontapé inicial de nossa metodologia no longínquo ano de 1999! Nessas anotações eu descrevo muito mais sensações ou detalhes que me chamaram a atenção, como por exemplo: texturas, inflexão e técnica vocal e virtuosidade dos instrumentistas, comportamento do produto em volumes bem reduzidos, ou em volumes próximos ao limite do que foi mixado. Planos, em termos de foco, recorte e profundidade e sobretudo o grau de musicalidade e o grau de imersão no acontecimento musical.

Eu já fazia este processo mental com a mais tenra idade, quando meu pai, depois do jantar, me perguntava se eu podia ajudá-lo na escolha de um componente para substituir um original em nossa fatídica reserva de mercado, em que importar um transistor, um capacitor ou uma resistência era um parto! E lá ia meu pai, na busca de uma solução menos ‘nociva’ para aquele equipamento em conserto. E solicitava meu par de orelhas para ajudá-lo a encontrar uma solução. Às vezes o ‘caminho das pedras’ já estava sedimentado, outras inúmeras vezes não.

E foi daí que desenvolvi a técnica de guardar no meu hipocampo as observações que fazia ouvindo sempre os mesmos trechos de música no equipamento de nossa casa. Não pensem que depois de alguns anos eu acertava de primeira. Pelo contrário, à medida em que minha referência de sistemas foi refinando, com as visitas aos clientes do meu pai, eu sempre queria que ele arrumasse soluções melhores. Aí, com sua paciência Zen, lá vinha ele me falar dos malefícios da reserva de mercado e toda sua dificuldade em conseguir componentes originais.

Voltando ao que interessa. Ainda que minhas anotações estivessem defasadas, foi um norte escolher os mesmos discos e faixas para escutar o Tyr 2 de interconexão e o de caixa. Desde o primeiro momento, o que se escuta nos Tyr 2 é uma mistura de folga, com velocidade e silêncio de fundo cativantes.

Arriscaria dizer que, no cabo de caixas, essas mesmas qualidades demoram um pouco mais (terá a ver com a construção em mono filamentos em paralelo, distribuídos em uma larga fita?). Mas, quando elas surgiram, esta dupla teve um desempenho sônico exemplar!

O RCA possui um grau de compatibilidade excelente, fosse trabalhando entre o pré de phono e o pré de linha, ou entre prés e powers, ou entre DAC e pré de linha. A melhor forma de descrever o Tyr 2 é que, em poucos segundos, seu cérebro para de pensar no que está ouvindo e se concentra só na música. Sua micro-dinâmica me deu a nítida impressão de ser superior ao Valhalla 1, e muito mais próxima do Valhalla 2. E estamos falando de um cabo que custa o dobro do preço!

Seu caráter sônico é sempre incisivo, retratando o tempo e ritmo com enorme autoridade e nos brindando sempre com uma folga e silêncio de fundo que nos fazem perguntar se realmente necessitamos mais em termos de performance.

Outra questão levantada, em diversos fóruns, por quem teve o Tyr 1 e realizou o upgrade, fala da melhora no corpo e peso na região do médio-grave, e a maior extensão tanto nas altas como na primeira oitava embaixo. Como não ouvi o Tyr 1, não tenho como dar minha opinião, mas posso testemunhar que no Tyr 2 esta limitação não existe. Desde as primeiras horas de amaciamento (com 15 horas) que seu equilíbrio tonal foi excelente. Agudos com grande extensão, decaimento perfeito (para se ouvir as ambiências), corpo, naturalidade no timbre e velocidade.

A região média é de uma beleza digna de cabos muito corretos e refinados, é palpável e integralmente natural para vozes e instrumentos musicais. Os graves possuem aquela solidez tão procurada nos cabos de referência, com corpo e velocidade também surpreendentes.

À medida em que o amaciamento foi se acelerando, as diferenças audíveis se concentraram no aumento da largura e profundidade do palco, e na precisão com que o foco e o recorte se delimitaram entre as caixas. Gosto muito, neste período em que o soundstage vai se firmando, de ouvir apenas obras sinfônicas ou pequenos grupos como quartetos de cordas, pois monitoro todos as mudanças no soundstage (quartetos para observar foco e recorte, e obras sinfônicas para ver a ampliação das camadas dos naipes tanto na profundidade como na largura).

O Tyr 2 vai muito além de retratar os planos dos naipes de uma orquestra, apresentando uma imagem quase holográfica e 3D dos solistas, tanto em termos de corpo como de silêncio à sua volta. Com 100 horas, o soundstage se acomodou, e não sofreu novas alterações significativas.

Também li em alguns fóruns audiófilos que diziam ser o Tyr 1 mais analítico do que quente, com determinadas eletrônicas. Se esta limitação realmente existia, foi totalmente corrigida na versão 2. Achei o equilíbrio entre silêncio e musicalidade perfeito. E para aqueles que desejam entender como avaliamos esta questão, basta se aterem à dois quesitos de nossa metodologia: textura e micro-dinâmica. Ambos não podem sobressair um ao outro. Pois se aquele triângulo no meio da orquestra soa com o mesmo impacto que o instrumento solo acredite, meu amigo, seu sistema está realmente puxando para o analítico, e este grau de informação secundária irá, em audições mais prolongadas, cansar.

Por outro lado, se a micro-dinâmica é sempre difusa e as texturas são sempre realçadas com muita ênfase (principalmente instrumentos acústicos e sopros), com flautas sempre doces e sedosas mesmo na última oitava mais aguda, ou trompete com surdina que parece que a surdina é feita de feltro, você também terá problemas, pois ainda que encante no começo, seu cérebro irá reclamar que o instrumento real não soa assim!

Então, conseguir o equilíbrio entre esses dois quesitos mostra com eficiência o nível de qualquer componente do sistema. Um amigo meu baterista sempre diz que, para ele avaliar textura, coloca para escutar solos com uso de muita caixa com a esteira fechada. Se a textura está ‘adocicada’ parece que o baterista substituiu a baqueta por uma meia (claro que isto é uma piada, mas alguns sistemas mais contemplativos realmente distorcem e, vou além, também distorcem a reprodução de transientes).

Nos nossos Cursos de Percepção Auditiva, explicamos com inúmeros exemplos como todos os quesitos da metodologia interagem e como nosso cérebro codifica e interpreta essas questões.

O Tyr 2 é muito coerente, e seu silêncio de fundo não se sobrepõe à apresentação de texturas. Elevando-o ao seleto grupo de cabos que são superlativos não por destacarem algo, mas sim por apresentarem o todo com forma, equilíbrio e beleza.

Desde o primeiro Blue Haven, testado em 1998, que destaco a velocidade dos cabos Nordost. Brincava que eles pareciam ser ligados no 220V, tamanha facilidade em acompanhar variações complexas em ritmo, tempo e andamento (transientes). Esta qualidade continua presente mas, como escrevi acima, não em detrimento de nenhum outro quesito.

Ouvimos os discos do Uakti, I Ching, faixa 3, e de André Geraissati, Canto das Águas, faixa 5, grudados na poltrona e sem tempo de respirar, tamanha precisão de ambos (RCA e de caixa).
O corpo harmônico, além de preciso, graças ao seu silêncio de fundo, nas vozes cria um efeito 3D espetacular! Colocando-os à nossa frente em nossa sala. Novamente, utilizamos estes exemplos de corpo para mostrar como nosso cérebro não se engana com reprodução eletrônica se o corpo e a materialização do acontecimento musical não for verossímil! Do que adianta uma gravação tecnicamente impecável se as vozes e instrumentos possuem o tamanho de uma pizza brotinho?

Não, meus senhores, nosso cérebro é bem astuto, e não se engana com corpos disformes. E vozes, assim como instrumentos de cordas e piano, são matadores para verificarmos a qualidade do corpo harmônico em nossos sistemas.

Com todos os quesitos equilibrados em um sistema Estado da Arte, e eis que o milagre ocorre: temos a materialização física do acontecimento musical à nossa frente e o grau de prazer auditivo (musicalidade) é proporcional à este equilíbrio.

Os Tyr 2 de interconexão e de caixa são extremamente musicais, corretos e sempre soaram com uma naturalidade cativante.

Falando sobre a construção do cabo de caixa Tyr 2, o isolamento a construção não muda em nada. O que muda é a geometria, já que estamos falando de condutores trabalhando em paralelo como em uma múltipla pista de autorama (não sei se nossos leitores com menos de 30 anos irão entender o que desejo dizer com ‘pista de autorama’),com 26 condutores 22AWG, o mesmo núcleo de cobre sólido de seis noves de pureza OFC, capacitância de 10,7pF/pé, indutância de 0.13 uH/pé, propagação de 96%, e terminações banhadas à ouro ou Z-plug Banana.

Os cabos de caixa, pela sua largura, necessitam ser desenrolados corretamente, e o ideal é que, se possível, se use os próprios elevadores indicados pelo fabricante. Isto facilita não se correr risco de tropeço ou ficar pisando no mesmo.

Pela quantidade de fios, é natural que ele necessite do dobro de tempo de amaciamento (foram 220 horas). No princípio ele toca mais engessado (principalmente nas duas pontas), seu corpo é menor e seus planos são bastante tímidos em profundidade e largura da imagem. Mas, a partir de 100 horas os graves ficam sólidos na primeira oitava, e são notórios pela velocidade, energia e deslocamento de ar.

Ao ouvir a primeira gravação de órgão de tubo, me rendi aos seus encantos e passei uma semana curtindo gravações com este instrumento, e com baixo acústico e elétrico. Revisitei toda a obra de Marcus Miller, Pastorius e Mingus. Foi realmente um deleite sonoro!
Sua velocidade torna qualquer gravação com inúmeras percussões, piano solo e bateria, momentos inesquecíveis! Equilibrado tanto quanto o de interconexão, o Tyr 2 de caixa é uma solução inteligente e definitiva para qualquer sistema Estado da Arte, por uma fração do preço do Odin 2.

CONCLUSÃO

O Tyr 2, como o fabricante afirma, é um passo consistente em busca do equilíbrio que todo o audiófilo sonha em dar ao seu sistema.

Suas qualidades são tão abrangentes e sua compatibilidade tão larga que deve ser uma das opções a serem escutadas em qualquer sistema sinérgico e sem elos fracos, em que apenas falte aquele cabo para realçar todas as virtudes.

São excepcionalmente construídos (é sempre bom lembrar que a Nordost antes de se dedicar ao áudio hi-end é o maior fabricante de cabos aeroespaciais, com exigências que vão muito além do uso doméstico de um cabo). Sua assinatura sônica, além de exuberante é extremamente correta em todos os quesitos de nossa Metodologia.

Altamente recomendado, principalmente para os que já apreciam a marca, mas não podem ou não desejam gastar o que custa o Valhalla 2 ou o Odin 2.

Nota: 99,0
AVMAG #250
AV Group
(11) 3034.2954
RCA (1m) – R$ 15.186
Cabo de caixa (2m): 340



CABOS DYNAMIQUE AUDIO HALO 2
Fernando Andrette

Esta é a segunda vez na história da revista que somos procurados por uma empresa estrangeira, que bate à nossa porta pedindo para avaliar seus produtos. A primeira foi a Etalon, em 2002, e agora a Dynamique Audio. Se acreditarmos que nada nesta vida é ao acaso, certamente poderemos escrever um belo roteiro com ambas as histórias e como os contatos foram feitos.

O da Etalon, o primo do CEO arrumou uma namorada uruguaia e veio conhecer a América Latina e trouxe em sua bagagem o integrado. Nos encontramos no centro de São Paulo, ele sem falar absolutamente nada de inglês e arranhar apenas o espanhol (talvez graças a namorada). O Etalon embrulhado em jornal e uma fita crepe, saiu de uma mala surrada, direto para as minhas mãos. Não estava sequer preparado para aquela cena, absolutamente inusitada e engraçada. Sai de lá a passos largos direto para o estacionamento.

Ao olhar aquele pacote, que parecia mais com um embrulho de açougue mal feito, não poderia imaginar a beleza que se escondia debaixo daquelas folhas de jornal. O resto, todos os nossos mais antigos e fiéis leitores já conhecem. Apresentei o integrado Etalon em nossos Cursos de Percepção Auditiva e em Hi-End Shows, na esperança de arrumar algum distribuidor. E como diz o ditado: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, finalmente o Paulo Wang acabou vindo a distribuir a marca no Brasil. E muitos amigos e leitores ainda possuem em seu sistema produtos Etalon.

Já a Dynamique Audio, com o avanço tecnológico que nos conecta ao mundo em tempo real, foi muito mais fácil. Uma mensagem de apenas 20 linhas apresentando a marca, me colocou em contato imediato com o Daniel Hassany, CEO da Dynamique Audio, e começamos aí a troca de uma dezena de e mails até receber, para teste, um set completo de cabos da linha Halo 2, e um Apex de interconexão – top de linha- de 1m XLR.

Fundada em 2010, a Dynamique Audio é apenas uma ‘criança’ em um mercado que possui empresas centenárias (ou quase) como Luxman, Tannoy, etc. No entanto, ainda que não tenha uma década de vida, a Dynamique Audio já está presente em diversos países (leia entrevista com o Daniel na edição 257), e busca expandir seu mercado agora também para a América Latina.

Nas nossas trocas de mensagem, deixei claro ao Daniel que só faria sentido testar seus produtos se conseguisse ajudá-lo a arrumar um representante em nosso país. Pois sem esta representação seria frustrante mostrar aos nossos leitores os produtos e estes não terem como adquirí-los facilmente (expliquei a ele a burocracia e os impostos desproporcionais aplicados no país) e ele entendeu que sem um representante oficial eu não teria como publicar minhas avaliações.

Definida a estratégia, abri duas frentes de trabalho: conhecer os produtos, entender a filosofia da empresa e ler tudo que já foi publicado a respeito de seus produtos. Percebi que a Dynamique é bastante conhecida na Ásia e no Reino Unido (neste caso certamente por ser uma empresa inglesa). E que ainda que o número de reviews que tive acesso não sejam muitos, as conclusões foram unânimes em relação à performance, construção e compatibilidade.

No seu site tem uma seção chamada Filosofia da Empresa, e sugiro a todos os interessados que a leiam, pois com o fino humor britânico muito do que lá está escrito vem de encontro a tudo que acredito e que deveria ser discutido nas rodas de audiófilos.

Vou aqui apenas citar o que mais me chamou a atenção: o texto começa lembrando que além de um assunto polêmico, existem os que não acreditam em diferença alguma entre cabos bem construídos e, do outro lado, existem também aqueles (aqui ele está se referindo a fabricantes de cabos) que acham desnecessário mostrar as especificações técnicas ou a forma de construção e a qualidade da matéria-prima utilizada. E finaliza este primeiro parágrafo com a brilhante frase: “A confiança foi corroída ao longo das últimas décadas por óleo-de-cobra genuíno”. Na sequência do texto é apresentada a filosofia da empresa em tópicos como valor e escolha dos componentes utilizados em cada série. A linha Horizon 2, a primeira e mais barata, incorporam Teflon PTFE com condutores alta pureza com banho de prata, e conectores de baixa massa metálica, e não usam materiais de menor qualidade como dielétricos de silício ou PVC e condutores de cobre low-grade. O texto segue falando da importância do equilíbrio tonal, que permite ao usuário introduzir qualquer produto Dynamique sem colorir ou alterar o equilíbrio do sistema.

Fala da importância de especificações técnicas transparentes que são fornecidas com todos os seus produtos. Da qualidade da matéria-prima, da construção e da flexibilidade, apresentando como exemplo o cabo de caixa Tempest 2 que utiliza dois condutores de 10 AWG por canal, mas que ainda assim se mantém um cabo em sua aparência final mais flexível e magro que inúmeros cabos de interconexão que se tem no mercado Hi-end.

Mais à frente, propriamente, o texto apresenta a escolha dos condutores utilizados pela Dynamique com ênfase na prata pura ou em cobre OFC e OCC com banho de prata. E defende sua escolha afirmando que: “Enquanto a prata pode soar com pouco corpo e brilhante, devido a muitos fatores como a pureza do dielétrico, má qualidade da prata, geometria ineficaz, etc, cabos de prata corretos oferecem níveis inigualáveis de detalhes, dinâmica, corpo e musicalidade”. A Dynamique afirma que toda a fiação é extremamente pura e que nas linhas de entrada, com o uso do cobre, cada núcleo sólido possui pelo menos 100 mícrons de banho de prata. E nas linhas com prata pura, são empregados dois graus de pureza no condutor padrão, e na linha top são assegurados que a superfície de cada fio de prata seja totalmente desprovida de qualquer impureza.

A Dynamique usa preferencialmente a construção solid-core, pois em testes auditivos se chegou à conclusão que tecnicamente não há interação entre filamentos, desigualdades ou descontinuidades, o que resulta sonicamente em uma apresentação mais limpa, arejada, detalhada e livre de grãos em passagens com maior complexidade dinâmica.

Para os cabos mais sofisticados é utilizado um maior isolamento, mais espaçado que nas linhas de entrada, permitindo ainda mais ar para cercar os condutores. Tal arranjo (segundo o fabricante), reduz ressonâncias mecânicas e os condutores ficam mais desacoplados das camadas exteriores. Ainda que existam muitas alternativas, como: Polietileno (PE), Kapton, Polipropileno (PP), Peek, silício, a Dynamique não abriu mão do Teflon para o isolamento, por suas características e por seu alto grau de isolamento já provado em uso como dielétrico em aplicações militares e aeroespaciais.

No quesito geometria, a Dynamique utiliza para cada série a que sonicamente tenha melhor resultado na redução de ruído EM/RF, como: par torcido, star-quad (que rejeita o ruído de forma mais eficaz que o par trançado – segundo as observações da Dynamique) e a matriz helicoidal (proprietária da Dynamique) com uma geometria com espaçamento e alinhamento dos condutores, e fornece um amortecimento mecânico adicional.

Em termos de blindagem, a Dynamique Audio se diz inteiramente cética em utilizar blindagem metálica em cabos analógicos, pois todos os testes auditivos resultaram em uma fidelidade reduzida. E decidiram confiar na consistência das geometrias por eles empregadas como um escudo natural de todo ruído em EM/RF, e utilizar em todos os cabos a tecnologia desenvolvida por eles de filtro de ressonância. Somente nos cabos digitais é utilizada alguma forma de blindagem metálica.

Os amortecedores/filtros de ressonância, segundo o fabricante, combatem distorções microfonais através do aterramento dessas distorções entre próprio cabo e o amortecimento. Os filtros de ressonância da Dynamique são CNC Milled, feitos uma peça de alumínio cortada em CNC, lustrado mecanicamente e anodizado e fixado ao cabo com um adesivo elastomérico que absorva ressonâncias e vibrações. Este absorvente (segundo o fabricante) não altera os parâmetros elétricos básicos do cabo, como muitos projetos de filtragem, absorvendo eficazmente o EMI, ampliando a resolução e uma maior sensação de estabilidade do soundstage.

Os conectores são todos projetados na Dynamique, para todas as suas linhas. Quanto à direcionalidade, na maioria dos cabos deste fabricante não são fornecidas nenhuma marcação de fábrica. Segundo a Dynamique, mesmo após longos períodos em uma direção, se o usuário se equivocar e mudar, em questão de horas tudo voltará à normalidade.

Alguns dos novos projetos que estão chegando ao mercado (o caso da linha Apex), no conector do RCA tem uma marcação indicando que esta extremidade deve ser conectada à ‘fonte’, para um resultado ainda mais refinado sonicamente.

Para a famosa questão do burn-in (queima/amaciamento de cabos), a Dynamique indica de 50 a 75 horas para os de interconexão, 100 a 150 horas para cabos de caixa, e 200 a 250 horas para todos os cabos estarem inteiramente amaciados.

Já no final do extenso artigo, a Dynamique toca em um dos pontos centrais das discussões audiófilas: bitola dos cabos. Quanto a bitola de um cabo favorece ou atrapalha? Para eles, cabo de bitola grossa nunca é o ideal para todas as frequências, tendendo a oferecer uma resposta mais acentuada nos graves, mas podendo desequilibrar os agudos (ele até brinca que o ideal é que mangueiras de jardim, sejam utilizadas apenas nos jardins). E que no oposto, cabos muito finos, tendem a prevalecer as altas frequências, porém em detrimento dos graves. Além disso, o uso de vários fios da mesma bitola causa um aumento de ressonâncias. A Dynamique, para fugir desta encrenca, optou em todos seus cabos por bitolas variadas de fios, associados às suas geometrias, e evitou cabos pesados, sem flexibilidade e de muita bitola total.

Pegar qualquer cabo na mão da linha Halo 2 surpreende pela leveza, flexibilidade e construção – e o oposto de uma mangueira de jardim, no caso específico dos cabos de caixa e de força. Para o teste, o setup de Halo 2 (um de cada: RCA de 1m, XLR de 1m, força de 1,5m e cabo de caixa de 3m), foram utilizado nos seguintes sistemas: o nosso de referência, pré de linha Nagra HD, powers Nagra Classic AMP, power valvulado AL-KTx2, pré de phono Boulder 500, toca- discos Acoustic Signature Storm, cápsula SoundSmith Hyperion 2 e braço SME Series V. Caixas: Wilson Audio Ivette e Sasha DAW, Rockport Avior II.

A linha Halo 2 está basicamente abaixo apenas das linhas Zenith 2 e Apex. Abaixo encontram-se: Horizon 2, Tempest 2 e Shadow 2.

As especificações fornecidas pelo fabricante em relação ao Halo 2 são as seguintes: condutores de núcleo sólido 2x 18 AWG em prata pura (4N), 2x núcleo de prata pura (4N) de 19 AWG, 2x núcleo sólido cobre OFC (7N) banhado a prata de 20/3 AWG, 1x 16 AWG cobre OFC (7N) banhado a prata para o aterramento. Isolamento em PTFE Teflon, super espaçado. Construção: matriz helicoidal, bitola distribuída. Damping: 1 filtro de ressonância. Plugs: Ouro Dynamique.

Segundo o fabricante, a linha Halo2 já possui muitas das características sônicas das linhas Zenith 2 e Apex. Com um equilíbrio tonal muito correto e a mesma prevalência de neutralidade. Ainda que o fabricante fale em 75 horas para os cabos de interconexão e entre 100 e 250 horas para todos estarem completamente amaciados (caixa e força), a boa notícia: saem já tocando muito bem. Então não haverá sofrimento algum se o usuário quiser acompanhar a queima dia a dia. E a outra excelente notícia: seu grau de compatibilidade é espantoso.

Esqueci de inserir na lista acima, dos produtos utilizados, o integrado Hegel H590 que ainda estava conosco e ajudou (e muito) no amaciamento tanto das caixas Sasha DAW como dos cabos Halo 2.

Ainda que com o amaciamento todo o setup tenha sofrido alterações, chamaria este processo de ‘acomodamento’, pois as diferenças estão na lapidação da assinatura sônica e não em alterações significativas como algo faltando ou escasso, que só o burn-in irá resgatar. Sua sonoridade desde as primeiras horas é envolvente, e com enorme grau de precisão e controle. Seu equilíbrio tonal se apresenta de imediato. Tem excelente extensão desde o início, nas duas pontas, e uma região média muito transparente.

Com mais de 20 horas, a grande mudança ocorre na separação dos instrumentos, cada um ganhando seu espaço e aquele tão desejado silêncio em volta das vozes solistas. Ainda antes do burn-in solicitado pelo fabricante, já é possível notar que o acontecimento musical se dará em um amplo espaço, tanto em profundidade quanto em largura. Os amantes de um soundstage preciso irão se deliciar com a performance do setup Halo 2. Seu foco e recorte são de cabos muito acima do seu preço (coloque ‘muito’ nisto) e sua capacidade de sustentar crescendo dinâmicos e ainda assim não borrar o solista é estupenda!

Para quem aprecia música clássica, o conforto auditivo não poderia ser melhor. Pois esta qualidade no foco, recorte e na apresentação de ambiência, nos coloca em uma ‘posição’ privilegiada frente à orquestra.

Falar em neutralidade em cabos é como tentar juntar em uma só a teoria da relatividade e os avanços da física quântica. Mas, acreditem, é possível medir a ‘neutralidade’ de um cabo. Basta você ter ao seu dispor dois setups bem ajustados e homogêneos, com assinaturas distintas. E para o teste dos Halo 2 tinha em mãos não um, mas três setups bem distintos em termos de assinatura sônica (Nagra, nosso sistema de referência, e o power valvulado AL-KTx2 ligado no pré-amplificador Nagra HD). Três sistemas completamente distintos, tanto em termos de performance como de folga.

Para a avaliação dessa ‘neutralidade’ defendida pela Dynamique Audio, ouvi apenas solistas. Violão, Violino e piano. Gravações com nenhum tipo de compressão ou equalização (nossas e de amigos músicos, como o André Mehmari, André Geraissati e Euclides Marques). Como um camaleão sonoro, os Halo 2 ganharam a sonoridade do setup, mostrando que sua interferência na condução do sinal, se houve, não foi notada.

Para aqueles que há anos buscam cabos que sejam mais neutros e não tenham a função de ‘equalizar’ ou corrigir nada que o sistema, sala e elétrica possuam de deficiência, este cabo existe. Ou melhor: o mais exato seria dizer ‘existem’, no plural, pois a linha Apex, também em teste, leva esta neutralidade um pouco mais adiante (aguardem o teste na próxima edição).

Mas, quantos sistemas que eu e você conhecemos estão já ajustados e sinérgicos o suficiente, para o uso de um setup de cabos neutros? Esta é uma pergunta de difícil resposta (quem sabe até o término da escrita deste artigo eu lembre de alguns). No entanto, saber que existem cabos com esta ‘virtude’ pode ser de enorme valia para todos que desejem um sistema equilibrado e neutro para desfrutar sua música sem coloração ou equalizações extras.

E vou ser execrado em praça pública, mas ouso dizer que certamente todos aqueles audiófilos e melômanos que tenham a música não amplificada ao vivo como referência para a montagem de seus sistemas, irão saudar a existência de cabos com esta qualidade. Pois, se os cabos estão presentes em todas as etapas da cadeia sonora, garantir que não sejam eles os vilões em sistemas que o maior desejo é a maior neutralidade, esta notícia é digna de comemoração. Já para os que usam cabos para ‘bandeidiar’ (acho que acabei de criar esse termo, rs) os Halo 2 deverão ser evitados a todo custo. Pois eles não se sujeitam a ‘dar um jeitinho’ no que está errado.

Muitos acreditam que a prata cause mais malefícios que benefícios aos seus sistemas. No caso do Halo 2, os que acreditam que esta afirmação seja verdadeira podem se despreocupar, pois ele ainda utiliza cobre OFC banhado à prata. Mas quanto ao Apex, certamente os detratores dos cabos de pura prata terão que ouvir para rever sua opinião e crenças!

Mas, voltando ao Halo 2, o que mais chama a atenção após toda a queima de 250 horas para todos, resumiria em duas palavras: folga e naturalidade. Os solistas dos discos que usei nos três setups, ainda que com assinaturas sônicas tão distintas, impressionaram pela folga e naturalidade.

As mudanças foram definidas pelos equipamentos como maior sedosidade e adição de mais feltro nas teclas do piano e suavidade nas cordas de nylon do violão, ou maciez nos violinos, no setup Nagra HD e power valvulado AL-KTx2. E maior ataque e definição, nos três instrumentos, no nosso sistema de referência (pré Dan D’Agostino e power Hegel H30), mostrando a capacidade do Halo 2 em interferir o mínimo na passagem do sinal.

Então, aqui acaba minha descrição pormenorizada deste setup de cabos da Dynamique, e começa o problema. Afinal, como descrever com exatidão os benefícios e atributos de um cabo que se ajusta como uma luva ao sistema? Felizmente, para este desafio é que contamos com a nossa Metodologia, que vai com seus 8 quesitos muito além da avaliação de equilíbrio tonal e soundstage, nos dando as ferramentas convenientes para apresentarmos a vocês mensalmente tudo que conseguimos observar dos produtos em teste.

Falamos do seu equilíbrio tonal correto e neutro, e pincelamos suas virtudes na apresentação do foco, recorte, ambiência e planos do soundstage. E agora podemos abrir nosso leque de observações e falar de outras qualidades, como transientes, textura, corpo harmônico, macro e microdinâmica (se bem que já dei toda a pista deste quesito algumas linhas acima), além de organicidade e musicalidade.

Seu senso de tempo e ritmo é preciso. O ouvinte com música em que o tempo e ritmo predomina, terá muito prazer em ouvir os Halo 2. Percussões são incrivelmente detalhadas e nos fazem ficar presos ao ritmo do começo ao fim.

Suas texturas dependerão obviamente do setup em que estiver ligado. Então posso dizer que no setup Nagra com power valvulado, as texturas eram sedutoras e quentes. No setup de referência, menos quentes, com uma maior ênfase na qualidade dos instrumentos, intencionalidade e execução. Com o sistema todo Nagra (pré e power), um equilíbrio maravilhoso entre esses dois extremos!

O corpo harmônico, ainda que não seja tão preciso como nossos cabos de referência, e em relação ao Apex também da Dynamique Audio, é muito correto e coerente. Uso, para fechar a nota desse quesito, uma gravação de um duo de contrabaixo e cello. Nos setups de nível superlativo, a diferença de corpo é tão correta que ‘vemos’ a diferença de corpo dos dois instrumentos como se estivéssemos assistindo à gravação a três metros dos músicos. No Halo 2 é muito proporcional e coerente a diferença, mas não chega ao grau de precisão de cabos mais refinados e caros. Você vai perceber esta sutil diferença no seu sistema para um sistema superlativo? Somente se você tiver uma enorme vivência com esses dois instrumentos tocados ao vivo, do contrário não fará diferença alguma. Mas nossa função de revisor crítico de áudio é exatamente esta: achar ‘pêlo em ovo’!

Sua organicidade (materialização física do acontecimento musical) depende muito mais do sistema e da gravação. Mas em sistemas como os utilizados no teste e as gravações deste quesito, não só o músico se encontra a sua frente, como você quase interage com ele!
E, por fim, o nosso quesito subjetivo: Musicalidade. Aqui ocorre o mesmo fenômeno da avaliação da textura: no sistema mais quente e suave certamente inúmeros leitores dariam uma nota mais alta para este quesito. Nas duas outras topologias, notas diferentes. Para nós o resultado do Halo 2 será a média dos três setups utilizados, para sermos justos e democráticos.

CONCLUSÃO

Acredito que, para a maioria de vocês, o que esteja em jogo neste veredicto seja a resposta se a Dynamique Audio cumpre o que promete ao afirmar fabricar cabos em que, além de corretos, sejam o mais neutros possível dentro de cada linha.

É preciso deixar claro o que significa essa ‘neutralidade’: a capacidade de não alterar o sinal que passa pelos cabos, amplificando ou retirando algo, para tornar o cabo mais ‘pirotécnico’ ou mais ‘palatável’.

A resposta é sim, meus amigos. A Dynamique conseguiu a façanha de desenvolver uma linha de cabos muito neutra, que se adapta perfeitamente ao setup em que forem ligados.

Portanto se você é um adepto de ‘fios equalizadores’, sua busca é na direção oposta! Mas se você acredita que seu sistema já esteja bem ajustado, sua elétrica tratada e correta (aqui, mais do que tudo, um cabo de elétrica neutro seria essencial – fica a dica para o Daniel fazer um cabo bom, barato e neutro para elétrica), e uma acústica decente, você vai gostar de conhecer os Halo 2.

Com eles em um sistema Estado da Arte correto e sinérgico, a audição de sua coleção de discos será elevada ao cubo!

Nota: 100,0
AVMAG #257
German Audio
contato@germanaudio.com.br
Interconect – 1m (RCA e XLR): US$ 1.994
Caixa – 2,5 m: US$ 3.380
Cabo de força – 1,5 m: US$ 2.254



CABO DE INTERCONEXÃO SAX SOUL ÁGATA II
Fernando Andrette

Demorou, mas finalmente conseguimos testar o Ágata II da Sax Soul. O Jorge, em uma visita realizada no final do ano passado, já havia nos informado que uma nova versão do Ágata já estaria em produção e etapa de audição. Como sempre, as informações foram poucas, apenas confirmando que a geometria seria a mesma do Ágata, mas com diferenças pontuais.

Como o tempo voa e as contas não esperam para serem quitadas, quando o Jorge ligou falando que enviaria o Ágata II para teste, já estávamos na primeira semana de abril! Pedi apenas que o cabo viesse com a queima inicial de ao menos 100 horas, pois já conheço a fama de todos os cabos da Sax Soul, que precisam de mais de 300 horas para darem seu máximo! O Jorge fez a gentileza e enviou o cabo com 125 horas de queima, o que permitiu que, já nas primeiras impressões em uma audição entre Ágata original e Ágata II, pudéssemos observar as diferenças entre as duas versões.

O Ágata II utiliza 240 fios de cobre trançado por seção, no positivo e negativo. Mas o ‘pulo do gato’, segundo o fabricante, está no uso composto por ouro, paládio e prata, que é dobro de fios em relação ao Ágata original. E a utilização de mais um fio só de ouro (que não existe no Ágata).

Para os nossos leitores que não conhecem os produtos da Sax Soul, sugiro a leitura dos testes dos cabos Zafira e Ágata publicados na edição 233.

Fui, por mais de dois anos, usuário dos cabos Ágata, utilizando três em nosso sistema de referência (dois RCA no setup analógico e um XLR no setup digital). E os escolhi justamente pelas suas inúmeras qualidades como: excelente equilíbrio tonal, velocidade, corpo harmônico, soundstage, energia e folga nas passagens com macrodinâmica.

Foi o primeiro cabo nacional a entrar em nosso sistema de referência, mostrando o nível de performance alcançado pelo produto. Só que, como a garotada diz: “a fila anda”. E no hi-end a fila anda em uma velocidade de carros de Fórmula 1. Depois do Ágata outros cabos também nacionais foram testados e vieram fazer parte do nosso sistema, como o Guarneri da Timeless e os Quintessence da Sunrise Lab. O que demonstra claramente o avanço e a competitividade deste mercado. Pensar que utilizaria em nosso setup principal três marcas de cabos nacionais, era inimaginável cinco anos atrás!

E acredito que a utilização destes cabos nacionais em nosso setup tenha, de alguma forma, contribuído para diminuir a resistência que muitos ainda têm em relação aos produtos Made in Brazil! Pois os tempos mudaram, e acredito que daqui para a frente iremos ouvir muitos produtos que estarão se juntando à Audiopax para criar uma indústria hi-end nacional que oferecerá: cabos, eletrônicos, caixas acústicas, condicionadores, acessórios, etc. E isso é muito positivo, afinal em tempos de crises intermináveis não depender da variação do dólar faz bem para o nosso bolso.

Vamos ao teste!

O Ágata II, visualmente, não difere do Ágata original. Mas, basta um teste a X b, para vermos que sonicamente o salto foi significativo! Antes de debulhar os quesitos da Metodologia, preciso descrever o que para mim foi o maior feito nesta nova versão: a distribuição de energia.

Antes que algum leitor ache que fiquei louco, espere. Em sistemas com 98 pontos para cima, um fenômeno auditivo muito interessante e prazeroso é como o som é organizado entre as caixas e para fora das caixas.

Esse equilíbrio se dá quando o sistema tem autoridade para reproduzir as passagens mais dinâmicas sem perder o fôlego ou deixar difuso ou comprimido o som, dificultando a inteligibilidade.

Porém, vários sistemas (muitos colocam a culpa só nas caixas, mas o sistema todo participa desta compressão), conseguem ir bem nos crescendos dinâmicos, mas no ápice do fortíssimo jogam a toalha!

Se o sistema estiver coeso e tiver a folga necessária, a distribuição desta energia e a organização dos planos, foco, recorte, arejamento, se dará de forma que o ouvinte não sinta que o som ficou momentaneamente frontalizado e tudo compactado.

O ideal para esta avaliação é obviamente música sinfônica, e com grandes variações dinâmicas. Pois bem: o Ágata sempre conseguiu com maestria trabalhar esses exemplos, porém a organização da energia sempre era concentrada entre as caixas. Diminuindo a lateralidade do acontecimento musical (para fora das caixas).

Excelentes exemplos são obras clássicas com a captação bem larga, em que os contrabaixos estão no canal direito para fora da caixa, e no canal esquerdo, os instrumentos que ficam atrás dos violinos e violas. Quando o sistema organiza e mantém a fidelidade do que foi gravado, mixado e materializado, esses instrumentos soarão para fora das caixas, o que nos dá um enorme conforto auditivo.

Em pianíssimo, tudo será um mar de rosas, mas no fortíssimo é que ouviremos se o sistema possui ‘bainha’ ou não! O Ágata original era excelente em distribuir a energia entre as caixas, mas fora delas sua dependência da folga do sistema era maior.

No resto, nunca tive do que reclamar, tanto que adquiri três unidades para uso no sistema (se você tiver um sistema analógico bem ajustado e de bom nível, irá perceber que esta questão de lateralidade é ‘pêra doce’ para qualquer bom setup analógico. Enquanto que para o digital é sempre uma conquista. Ainda irei escrever um artigo a respeito).

E foi exatamente neste item que prestei mais atenção assim que liguei o Ágata II entre o DAC dCS Scarlati (depois no MSB Select, e depois no dCS Vivaldi), para escutar a Nona de Beethoven e ouvir como os contrabaixos soavam no canal direito.

Bingo! Soaram com a mesma folga, tamanho (corpo), e energia que ouço na versão analógica!

Também foi possível perceber que a organização do acontecimento musical, entre as caixas, era muito mais profunda, com planos mais arejados e um recorte e foco de tirar o fôlego!

Com apenas 125 horas, faltava abrir os extremos. Fiz minhas anotações iniciais e o deixei em queima por mais 100 horas. Com 225 horas os graves, na primeira oitava, ganharam uma energia e precisão que o Ágata original não possui.

A velocidade é impressionante – permitindo que solos de contrabaixo, independente da virtuosidade, sejam acompanhados sem nenhuma atenção especial do ouvinte. Tudo acontece no palco imaginário à nossa frente, com um controle e folga que nosso cérebro simplesmente deseja mais e mais.

É realmente viciante.

E quando passamos para o MSB Select, simplesmente todas as virtudes do Ágata II foram ampliadas exponencialmente, já que o Select encontra-se em um patamar muito superior ao DAC dCS Scarlatti!

Mas, deixemos as observações auditivas do assombroso MSB Select para a próxima edição.

Voltando ao Ágata II: faltava, com 225 horas de queima, aquele toque final no arejamento e extensão nos agudos, que tanto aprecio no Ágata original. Eram corretos, naturais sem nenhum tipo de estridência ou dureza, mas sem aquele toque final que separam os cabos de nível superlativo dos corretos! Pus novamente em queima por mais 100 horas. E eis que se fez a luz!

O Ágata II deveria ser descrito como o cabo que permite destrinchar a música por inteiro sem a despedaçar (sem tornar o som analítico). Nada que esteja registrado se esconde, porém o todo é organizado de forma a ser uma audição sempre cativante e relaxante.

O ‘truque’ para este conforto auditivo, meu amigo, está na correta distribuição de energia e precisão e no perfeito equilíbrio em todos os quesitos. E ainda que você seja completamente cético em relação a cabos, este equilíbrio, quando alcançado, muda por completo sua percepção de como ouvir música em um sistema hi-end.

Como escrevi, aqui está o divisor de águas entre o correto e o superlativo. Os articulistas internacionais batizaram esses componentes de ultra-hi-end. Pessoalmente não gosto, pois amanhã com o avanço tecnológico aparecerá o ‘super-ultra’, depois o ‘magnânimo-super-ultra’. Prefiro o termo ‘superlativo’, que apenas separa o excelente do que é ‘ponto fora da curva’.

O Ágata II pertence a esta safra de cabos que conseguem se manter isentos de qualquer desafio, desde que seus pares façam a sua parte. Sua sonoridade é rica, detalhada, sem cair na transparência ou na pirotecnia. Só aparecendo quando necessário, se escondendo atrás da reprodução musical, para que o ouvinte só perceba sua importância na hora que o retira do sistema. É o melhor cabo de interconexão feito aqui no Brasil, neste momento.

Se você leitor tiver um sistema também de nível superlativo, bem ajustado e com uma acústica e elétrica bem feitas, dê uma chance e o escute. E ainda que o julgue caro, por ser nacional (a matéria-prima utilizada no cabo é toda importada e com preço em dólar – mas muitos julgam que por este motivo não pode ser caro) em comparação com os tops importados, ele custa um quarto do preço!

O que pode animar muitos que sonham com o cabo que traga aquela musicalidade e equilíbrio tão almejado em seus sistemas, e que finalmente possa ser comprado.

CONCLUSÃO

O Ágata original recebeu em nossa metodologia 99 pontos. Em nossos Cursos de Percepção Auditiva (aos 162 já pré-inscritos para participar do curso, aguardem que estou em fase final de fisioterapia e tenho esperança de em breve poder iniciar as primeiras turmas), sempre mostramos com exemplos que, acima de 98 pontos, em cada três a quatro pontos o salto é significativo, porém o custo é muito elevado para se conseguir esses suados pontos a mais.

No caso do Ágata II, foram quatro pontos a mais, o que significa que além de um salto consistente, sua performance em relação ao Ágata original é muito maior do que imaginávamos!

A todos os leitores que possuem o Ágata original, sugiro uma audição do Ágata II, e a todos que possuem sistemas com 98 pontos e desejam um upgrade em cabos por um quarto do valor que pagariam em qualquer cabo top importado, que também ouçam o Ágata II.

No nosso sistema ele veio para ficar (entre o DAC e o pré de linha), os leitores que se inscreveram para o nosso Curso de Percepção Auditiva poderão escutar e tirar suas conclusões.

Um cabo de nível superlativo, com uma sonoridade em que a naturalidade e o conforto auditivo se sobressaem de maneira estupenda!

Nota: 103,0
AVMAG #251
Sax Soul
(11) 3227.1929 / 98593.1236
RCA – 1m – R$ 24.400
XLR – 1m – R$ 25.800
Power – 1,5m – R$ 18.200
Jumper – 20/25 cm – R$ 4.300



CABO DE INTERCONEXÃO APEX DA DYNAMIQUE AUDIO
Fernando Andrette

Antes de você ler o teste do cabo Apex, sugiro que, se você ainda não tenha feito, leia o teste do set completo dos cabos Halo 2. Lá eu falo em detalhes a história da Dynamique Audio, uma empresa inglesa que, agora em 2020, completará sua primeira década de vida, falo de sua filosofia, seus conceitos e, principalmente, ‘pincelo’ a cabeça pensante por trás de todos os produtos desta empresa, que não tenho dúvida irá dar muita dor de cabeça para a concorrência nos próximos anos.

Toda grande ideia nasce da ausência de comodismo. Quem me dizia esta frase repleta de sabedoria era minha avó materna, uma senhora de um coração gigante que criou dez filhos (9 mulheres e apenas um homem: meu pai). Ela tinha a capacidade de interpretar e dar cor ao cotidiano, como nenhum outro ser humano que tive o prazer de conhecer o faria.
Quando ouço a obra prima de Paul McCartney, Let It Be, lembro imediatamente de minha vó Angelina e seus sábios conselhos e confortos.

Daniel Hassany, CEO da Dynamique Audio, pela foto que me enviou para ilustrar a nossa entrevista, me pareceu surpreendente jovem para estar à frente de tamanho desafio: oferecer cabos que estão fora do padrão estabelecido pela indústria de cabos hi-end, como as referências de mercado.

A resposta para seu talento estão logo na primeira pergunta que fiz a ele: sua formação profissional? Ainda que tenha uma formação acadêmica na área de TI, sua paixão parece ser engenharia industrial com expertise em ciências de materiais, metalurgia e processos de usinagem em manual CNC, anodização e galvanização. E, para fechar esse ‘pacote’ de conhecimento: audiófilo.

É como juntar um time de ‘especialistas’ em uma só cabeça e, como também diria minha vó: “A fome com a vontade de comer”.

A Dynamique, amigo leitor, nasceu com um ‘DNA’ vitorioso, pois alia todo o conhecimento necessário para o desenvolvimento de cabos que atendam às necessidades do usuário que esteja dando seu primeiro passo em um sistema de entrada, até o audiófilo que almeja dar ao seu setup cabos definitivos. E aí vêm os dois grandes diferenciais: verticalização na produção, com um controle absoluto em todas as etapas, e preço final de seus produtos.

O consumidor que busque agilizar seus upgrades de cabos, avaliando as opções que se mostrem mais atraentes em termos de custo e performance, terão que colocar nesta lista os cabos da Dynamique. Tudo que escrevi acima me chamou a atenção (não poderia ser diferente), mas o que realmente acendeu aquela luz na minha cabeça foi ao ler todo material enviado pelo Daniel quando ainda estávamos trocando nossas primeiras mensagens, afirmando que o conceito central de seus projetos se baseia em dois alicerces: neutralidade e equilíbrio tonal.

Pois, por experiência própria, raríssimos foram os cabos que testei que de alguma forma não impusessem algo de sua assinatura sonora nos sistemas em que estão conectados, e os que testei que conseguem esta façanha, custam, muito, muito caro! E isto já são ‘favas contadas’ no meio audiófilo, de que os cabos é que dão ‘o tempero’ final a qualquer sistema.

Tanto que, se você perguntar o motivo de um audiófilo ter escolhido para o seu setup o cabo A e não o B, prepare-se para ouvir inúmeros adjetivos abalizando sua escolha. Sempre foi assim, desde que cabos entraram no itinerário de opções essenciais para o ajuste fino de uma configuração.

Já equilíbrio tonal, todos os fabricantes sérios almejam oferecer aos seus clientes – este tão importante quesito. Porém, também por experiência própria, e por dar total ênfase em nossa Metodologia a este quesito, bem sei o quanto este ‘equilíbrio tonal’ é difícil de alcançar e de ser assimilado pelos que estão começando esta jornada rumo ao ‘nirvana sonoro’.

O que, lá no fundo, me ‘atiçou’ na verdade é que a busca do Daniel Hassany bate integralmente com o que penso à respeito de alta fidelidade, ou seja: se você tiver o melhor equilíbrio tonal possível, você terá simultaneamente maior neutralidade. Ambos caminham juntos, pois fazem parte do mesmo corpo!

Mas, fazer as pessoas compreenderem que assim é, pode ser um trabalho para toda uma vida. Animado com a possibilidade de dar mais um passo na montagem deste ‘quebra cabeça’, e conseguir ouvir o que a Dynamique se propõe a oferecer, me coloquei à disposição para ajudá-los a fincar o pé por essas paragens.

Acho que consegui passar à você, leitor, as qualidades dos cabos Halo 2 e o grau de neutralidade por este cabo alcançado no uso para o teste de três configurações tão distintas em termos de assinatura sônica. O Daniel me explicou que, à medida que o usuário sobe de série nos cabos Dynamique, ele não terá nenhum ‘plus’ em termos de qualquer efeito sonoro novo. Pelo contrário: só terá ainda mais refinamento, mais naturalidade e maior neutralidade!

Minha penúltima pergunta na entrevista foi justamente sobre o Apex, seu mais novo cabo de referência. Meu questionamento era referente ao seu altíssimo grau de naturalidade e neutralidade, e ele me respondeu que neste novo cabo, com os avanços nas observações da composição de materiais, foi possível ir um passo além do que já haviam conseguido no Zenith 2 (que era o cabo de referência até então). E que a grande surpresa foi justamente tornar o Apex ainda mais neutro, natural e musical.

Então chegou a minha vez de falar a respeito deste cabo, amigo leitor, e aqui estou para mais este desafio.

O Apex de interconexão é o primeiro da nova série que em breve também contará com o de caixa e de força. O novo cabo utiliza uma mistura selecionada de metais nobres, com o fio de prata pura 5N, misturado com camadas muito puras de ouro e ródio. O resultado é um design batizado de Quad- balanceado, composto por 8 condutores de núcleo sólido por canal, com quatro condutores que variam entre 20 AWG e 24 AWG, com uma largura de banda muito mais estendida. O isolamento é um Teflon PTFE, com espaçamento super aéreo e uma nova versão da geometria de matriz helicoidal para o espaçamento ideal de cada condutor. O filtro de ressonância é também utilizado no Apex para o combate a todo tipo de ruído.

O modelo enviado para teste foi de 1 metro, com terminação XLR, com plug de fibra de carbono e cobre banhado à ródio. Felizmente, para o teste poder ser realizado, tínhamos um set completo de Halo 2 para poder apenas substituir o Halo2 XLR pelo Apex XLR. E tirar nossas conclusões.

Para poder utilizar todos os três setups que usamos no teste do Halo 2, só podíamos utilizar o Apex entre o pré de phono Boulder e os dois prés de linha: Nagra HD e Dan D’Agostino. Para utilizar o power valvulado, recorremos ao Halo 2 RCA.

Nos dois outros powers: – Hegel H30 e Nagra Classic – utilizamos o Halo 2 XLR. O ideal seria termos pelo menos mais um Apex XLR, para podermos ter maior segurança no fechamento da pontuação, mas infelizmente não houve tempo hábil para a chegada da primeira importação feita pelo distribuidor. Certamente, quando chegar, e se houver a disponibilidade de tempo, publicarei minhas observações – se houver alguma diferença muito significativa em termos de pontuação final (algo acima de 1 ponto).

Para o momento, o que mais desejava era saber o quanto a neutralidade e naturalidade crescem com o Apex em relação ao Halo 2, e se estas diferenças valem o investimento. E para fechar a nota do Apex, recorremos ao nosso principal cabo de referência, o Transparent Opus G5 XLR ligado em nosso sistema entre o pré e power Nagra, e entre nosso pré e power de referência.

O que mais nos encantou no Apex foi que realmente seu grau de neutralidade consegue ser ainda maior e mais pleno que no Halo 2. Em cada um dos três sistemas, o que prevaleceu foi unicamente a assinatura sônica do sistema. Ele não impõe nada, zero de coloração, aumento de corpo nos graves, luz nos agudos, ou ênfase maior nos médios. Parece literalmente o ‘não cabo’, ao possibilitar ao sistema mostrar suas qualidades e limitações.

No entanto, esta neutralidade vem acompanhada de uma folga, silêncio de fundo e uma tridimensionalidade espantosos! Possibilitando ao ouvinte perceber com enorme clareza todo o potencial e as imperfeições ainda existentes no sistema. É uma ferramenta de trabalho imprescindível para revisores críticos de áudio e para audiófilos que já descobriram que cabos não são ‘equalizadores’ ou tampões de problemas que já deveriam ter sido sanados (como elétrica, acústica e elos fracos).

Seu cérebro imediatamente aprova este conforto auditivo e a possibilidade de você resgatar aquelas gravações que estavam pegando pó nas prateleiras, por serem excluídas pelas suas limitações técnicas. Este nível de conforto auditivo eu só conhecia na linha G5 da Transparent – em que sua discoteca começa a ser integralmente resgatada. Diria ser este o momento mais glorioso de todo audiófilo, saber que finalmente retornou ao princípio de seu objetivo, que era trazer para dentro de casa o prazer de ouvir música ao vivo. Ou de estar ali junto com os músicos na sala de gravação. É a mesma sensação de estarmos voltando para casa depois de uma longa estadia em viagens de negócios, horas e horas em aeroportos e hotéis. Não tem como descrever este momento, de ‘redescobrir’ um disco tão apreciado artisticamente e que ficou anos isolado, pois a cada novo upgrade, ele (o CD), não estava à altura do investimento.

Quantos de nós não chegamos à conclusão que aquele disco era realmente inaudível, e só não o trocamos em uma loja de sebo por ter um enorme apelo emocional. E quando finalmente ajustamos nosso sistema, constatamos euforicamente que estávamos enganados. A ponto de passarmos a mostrar com orgulho aquele disco para os amigos! Como um troféu merecidamente conquistado pelo nosso esforço, conhecimento e determinação.

O que precisava ser corrigido era o sistema e não uma centena de discos que foram ‘abandonados’ enquanto peregrinávamos na busca de nosso ‘santo graal sonoro’. Afinal, compramos um sistema hi-end para ampliar nosso prazer em ouvir nossos discos, e não o contrário.

Pena que tantos esquecem este propósito!

O Apex é um cabo que irá colocar em ‘xeque’ se o seu sistema ainda continua falhando no propósito inicial. Pois lhe dará um diagnóstico preciso da lição de casa que você esqueceu de colocar em prática antes de continuar na busca insana por um ou outro quesito da Metodologia. Culpar o Apex, não irá ajudar em nada, pois se você o escutar em um sistema correto em termos de Equilíbrio Tonal, sinérgico e sem elos fracos, as audições serão simplesmente gloriosas! Capaz de lhe levantar os pelos dos braços e vir aquele nó na garganta. Exagero?

Pegue um audiófilo que investiu um caminhão de dinheiro e nunca conseguiu chegar lá, e deixe-o escutar seus discos que mais lhe tocam o coração, em condições corretas, e você verá se o que estou descrevendo é um exagero.

O audiófilo, assim como o melômano, é um ser sensível (caso contrário não amaria a música). E cada um sabe aonde o calo aperta. E o quanto lhes custou os apuros e dinheiro investido em todas as tentativas e erros de anos e anos. Ninguém, por mais milionário que seja, acerta neste hobby de primeira. Pelo contrário, o risco de achar que o melhor é o mais caro, pode levá-lo a cometer verdadeiras ‘atrocidades’ sonoras.

Um exemplo é o Apex, um cabo de nível superlativo que custa 1/3 ou menos do que os melhores cabos consagrados pela mercado hi-end. Mas, como escrevi no teste do Halo 2, a Dynamique tem um problema: como seus cabos não colorem, não equalizam e não tapam buracos, somente em sistemas corretos poderão mostrar todos os seus benefícios. Então, neste quesito, sua compatibilidade depende muito mais do sistema do que de todas as suas virtudes.

Felizmente muitos começam a entender a questão do Elo Fraco, a necessidade de fazer elétrica e acústica, e escolher um sistema que tenha uma assinatura sônica coerente. Estes já estarão aptos a ouvir os produtos deste jovem fabricante inglês de cabos. E como conheço um pouco da cabeça de audiófilos mais ‘rodados’, muitos irão querer ‘testar’ esta neutralidade dos cabos da Dynamique – para avaliar na calada da noite – testar o grau de acerto de seus sistemas, ainda que não falem nem para sua cara metade que estão colocando seu sistema à prova! Se constatarem o que aqui escrevo, certamente ficarão com os cabos. Se não funcionar, então os Dynamiques ‘não são tudo isto’ que o Andrette escreveu. Ossos do ofício!

Minha única função é compartilhar com todos que nos leem nossas observações dos produtos que chegam para teste mensalmente. O que cada um de vocês fará com essas informações, já não cabe a mim julgar ou se quer manter alguma expectativa. A única coisa que sei é que se estamos há quase 25 anos no mercado, então para alguma utilidade servimos (nem que seja apenas para ‘sentar a pua’).

O Apex possui uma outra característica que a mim encantou muito: sua capacidade de apresentar o acontecimento musical essencialmente pela ‘ótica’ do sistema. O que desejo dizer com isto? Que existem setups que trazem o acontecimento musical até nós. E como sabemos que isto ocorre? Quando nosso cérebro sabe que o espaço físico que uma orquestra sinfônica necessita para atuar é muito maior que a nossa sala e, no entanto, parece que os naipes (ainda que menores que a dimensão real) e os solistas vêm até nós.

E, ao contrário, existem sistemas e principalmente caixas acústicas que realizam o efeito inverso: nos levam até o acontecimento musical. Neste caso, para alguns, o conforto auditivo aumenta (é o meu caso), e para outros o acontecimento musical vir até sua sala “é o mais prazeroso” (isto é mera questão de gosto e encontra-se na esfera das poucas coisas realmente subjetivas da audiofilia).

O Apex, junto com o Opus G5, foram até hoje os únicos cabos que conseguiram realizar com total maestria essas duas possibilidades. E a razão de tamanho feito está justamente nesta não intromissão no caminho do sinal, deixando o setup realizar por completo sua assinatura sônica.

Outros cabos também conseguem realizar com enorme qualidade esse efeito psicoacústico, mas não ao ponto de ser completo. Sendo muito mais dependentes da qualidade da gravação e de estarem mais alinhados com a assinatura sônica do sistema. Ou seja, são mais dependentes do setup todo.

Em termos de todos os outros quesitos da nossa Metodologia, o Apex – assim como o Halo 2 – foi o que cada sistema tinha a oferecer. Exemplos: texturas mais quentes e sedosas: pré Nagra HD com o power valvulado com KT150. Mais intencionalidade que sedosidade: nosso Sistema de Referência. O melhor dos dois mundos em termos de textura: o conjunto Nagra. Maior impetuosidade na escala dinâmica nas macros: nosso Sistema de Referência e os Nagras. Menor escala, mas com uma micro impressionante: pré Nagra com o power valvulado ou o Hegel.

Como um camaleão, o Apex se molda ao sistema sem nenhum tipo de ajuste ou esforço por parte dele. Tenha o setup uma excelente apresentação de soundstage, e o Apex lhe proporcionará um recorte, ambiência e planos em 3D magistrais! Ele apenas apresenta o que o setup tem de melhor, sem acrescentar nada.

CONCLUSÃO

Poder constatar que existe um fabricante que tenha desenvolvido toda uma linha de cabos que prima por buscar a melhor relação de neutralidade e naturalidade, é um privilégio. Pois eu, sinceramente, achava que este grau de possibilidade ainda estava distante (não por falta de tecnologia, matéria-prima, etc, mas pelo simples fato dos fabricantes desejarem atender um mercado que utiliza cabos para corrigir seus sistemas ou dar uma turbinada neles).

A Dynamique está trilhando outra estrada. Certamente apostando que, em algum momento, mais e mais audiófilos e melômanos compreenderão que cabos não são ‘band-aids sonoros’. Bato nesta tecla desde a primeira edição da revista. Já fui imensamente criticado por defender este ponto de vista e perdi inúmeros leitores e anunciantes! Ganhei críticos virulentos e pouco éticos. Mas consegui, com nossa linha editorial, cursos, discos e eventos, mostrar à muitos dos nossos leitores que ajustar um setup corretamente exige muito conhecimento e memória auditiva apurada.

Sem estes cuidados e dedicação, não se chega a lugar nenhum. Uns entendem esta lógica aos primeiros erros, outros levam uma vida.

Mesmo que não seja a hora de você ouvir um cabo Dynamique no seu sistema, colocá-lo em seu radar para futuras audições (nem que seja apenas para avaliar o grau de Equilíbrio Tonal e naturalidade do mesmo), pode ajudá-lo a corrigir sua rotas – se assim você achar conveniente.

No caso específico do Apex, este se destina exclusivamente a sistemas de nível superlativo em que o audiófilo deseje conhecer ‘integralmente’ o potencial máximo do seu sistema. E dou-lhe um conselho, amigo leitor, caso o seu sistema não tenha ‘uma unha’ de desajuste, prepare-se, pois o senhor não estará imune às mesmas reações emocionais que descrevi algumas linhas acima. Seu poder de convencimento é simplesmente absoluto!

Nota: 106,0
AVMAG #258
German Audio
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R$ 32.500

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